As Três Velhas, do dramaturgo franco-chileno Alejandro Jodorowsky, termina circulação com apresentações no Teatro Alfredo Mesquita *
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Foto meramente ilustrativa. |
Apostando no melodrama grotesco em que três velhas habitam ruínas físicas
e psíquicas, revelando beleza no apodrecimento do corpo, da casa e do mundo, o
trabalho reflete uma sociedade hipócrita, cruel e que vive de aparências
“A encenação encontra no diálogo entre cenário, luz, atuação, visagismo,
figurino e direção uma rara sintonia. Cada camada se mantém com valor próprio,
mas é no entrelaçamento que elas ganham potência máxima, criando um organismo
cênico harmônico.” Poliana Piteri, no site A Espectadora
Humor, drama e
tragédia se misturam na nova peça do Teatro Kaus Cia Experimental, “As
Três Velhas”. Com direção de Reginaldo Nascimento, a obra
explora a linguagem do teatro do absurdo e faz uma temporada gratuita no Teatro
Alfredo Mesquita, entre os dias 25 setembro a 5 de outubro, de quinta a
sábado, às 20h, e, aos domingos, às 19h. O elenco tem as atrizes Amália
Pereira, também fundadora do grupo, ao lado de Tânia Granussi e Vera
Monteiro.
Escrito em 2003
pelo escritor franco-chileno Alejandro Jodorowsky, dramaturgo,
ator, poeta cineasta e quadrinista, o texto teatral conta a história das gêmeas
octogenárias Meliza e Grazia, duas marquesas decadentes que vivem em uma mansão
em ruínas e são vigiadas pela centenária criada Garga, a tradução desta versão
do texto foi feita para o grupo pelo dramaturgo Aimar Labaki.
Em uma noite
incomum, devastadas pela fome e pelo abandono, as três mulheres desenterram
segredos chocantes que conduzem a trama por caminhos inesperados. Ao longo da
narrativa, temas como hipocrisia social, etarismo, patriarcado e violência vão
se fazendo presentes.
Desde 1998, o
Teatro Kaus pesquisa o surreal e o absurdo, sempre em textos de língua
hispânica. “Gostamos de retratar personagens
sedentos pela vida e em franco diálogo com o desespero, o abismo e a morte. Há
mais de 15 anos queríamos montar algo do Jodorowsky”, comenta Reginaldo
Nascimento, o diretor e um dos fundadores do grupo.
“As Três Velhas” é
definido pelo dramaturgo como um “melodrama grotesco”. “As duas irmãs foram
violentadas pelo pai, enfrentam uma série de agressões e vivem na penúria.
Mesmo assim, orgulham-se dos seus títulos, mantêm um lindo vestido de baile e
sonham com um príncipe encantado”, acrescenta.
Os últimos
trabalhos do grupo exploraram um lado mais filosófico do
ser humano e eles queriam investir em outra estética. “Falar do feminino e da
velhice eram dois assuntos que nos interessavam muito, ainda mais explorando o
grotesco”, conta Amália Pereira, também fundadora do grupo, que está em cena ao
lado de Tânia Granussi e Vera Monteiro.
Sobre a encenação
Esta montagem parte
da ideia de que tudo apodrece, o corpo, a casa, o mundo, e é nesse
apodrecimento que nascem outras formas de beleza e potência. Inspirados pela
estética do grotesco, do decadente e do melodrama, criamos um espaço onde as
três velhas transitam entre ruínas físicas e psíquicas. A atuação se apoia na
estilização dos gestos, na construção de máscaras corporais e vozes deformadas,
compondo personagens entre o real, o sublime e o grotesco.
O cenário da
ideia de tempo que já se foi, evocando uma casa antiga, é composto por tecidos
que possam remeter às paredes envelhecidas da casa. A presença de um quadro
central no fundo da cena em que figura a imagem do Conde de Felicia, patrono da
família, evoca um passado idealizado ou perdido. Três cadeiras de tamanhos e
estilos diferentes, simbolizam a hierarquia entre as velhas, mas também sua
instabilidade. Essa encenação é um convite ao desconforto, ao riso nervoso e à
contemplação do grotesco como forma de resistência estética e política.
Em relação ao
figurino, Telumi Hellen vai por um caminho de peças simples que sobraram de um
tempo de realeza. Já o visagismo de Louise Helène tem a proposta de apresentar
um grotesco belo. “Não queremos retratar uma velhice caricata, até porque o
perfil de uma pessoa de 80 anos mudou muito em relação ao passado”, explica
Reginaldo.
Além de músicas
clássicas pouco conhecidas, a trilha sonora é formada por sons e grunhidos um
tanto assustadores. É para dar uma sensação de que tudo naquele lar tem uma
vida própria, como se até as paredes falassem.
Por um novo
surrealismo
De acordo com Amália, apresentar esse trabalho é
encerrar um ciclo de possibilidades estéticas e poéticas iniciado em 2010, com
a montagem de “O Grande Cerimonial”, do espanhol Fernando Arrabal. Em 1962, os
dois autores, junto com Roland Topor, fundaram o movimento artístico Pânico,
que propunha uma arte performática caótica e surreal que se contrapusesse ao já
estabelecido surrealismo.
Usando
principalmente os ideais de Artaud e homenageando Pã, o deus grego da natureza
selvagem e dos pastores, o coletivo defendia a realização de atos violentos e
chocantes cujo propósito era gerar emoções intensas nos espectadores. Para
eles, a radicalidade era uma importante força catalisadora de transformações.
A temporada de “As
Três Velhas” do Teatro Kaus Cia Experimental foi contemplada na 20ª edição do
Prêmio Zé Renato de Teatro.
FICHA TÉCNICA
Autor: Alejandro
Jodorowsky
Tradução: Aimar Labaki
Direção: Reginaldo
Nascimento
Elenco: Amália Pereira,
Tânia Granussi e Vera Monteiro
Cenário: Reginaldo
Nascimento
Figurinos: Telumi Hellen
Visagismo: Louise Helène
Desenho de
luz: Denilson
Marques
Sonoplastia: Reginaldo
Nascimento
Técnico operador de
luz: Giovanni
Matarazzo
Técnico operador de
som: Giovana
Carneiro
Técnico de palco: Leandro Gomes
Interpretação em
libras: Sabrina
Caires
Direção de
produção: Reginaldo
Nascimento
Produtora
executiva: Amália
Pereira
Assistente de
produção: Giovana
Carneiro
Realização: Teatro Kaus Cia
Experimental
Produção: Kaus
Produções Artísticas
TEATRO ALFREDO
MESQUITA
Créditos:
Dani Valério | Canal Aberto
* Este conteúdo foi enviado pela assessoria de imprensa
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