Galatea apresenta José Adário na Art Basel Miami Beach 2024 *

 

Foto meramente ilustrativa.

Primeira individual do artista baiano nos Estados Unidos reúne ferramentas e esculturas utilizadas no Candomblé para mediar a conexão entre os homens e os orixás

Galatea exibe na Art Basel Miami Beach 2024, a partir de 6 de dezembro, o solo José Adário: no caminho de Ogum, exposição que traz um conjunto de 25 esculturas de ferro do artista baiano. Também conhecidas como  ferramentas de santo, elas operam uma espécie de mediação entre os homens e os orixás, entre o mundo físico (Aiyê) e o mundo espiritual (Orum). Nos terreiros de Candomblé, são utilizadas em rituais e para devoção. Por produzi-las com grande originalidade e sofisticação formal, José Adário passou a ser reconhecido não só como o escultor-ferreiro mais celebrado dos terreiros da Bahia, mas como um artista cuja prática é intimamente vinculada às raízes afro-diaspóricas da cultura de sua região — Salvador é considerada a cidade mais negra fora da África. Esta é a primeira ocasião em que o artista expõe individualmente os seus trabalhos nos Estados Unidos.

Nascido em Salvador, na Bahia, José Adário (1947) deu início à sua trajetória como ferreiro quando tinha apenas 11 anos de idade. Guiado pelo mestre e mentor Maximiano Prates, Adário aprimorou a sua prática como ferreiro de santo na oficina de Prates situada na histórica Ladeira da Conceição da Praia, seu local de trabalho até hoje.

As esculturas de Adário vinculam-se a diferentes orixás que “trabalham com o ferro”, que o possuem como matéria-prima — a começar por Ogum, o guerreiro e senhor das tecnologias. Cada ferramenta traz, de forma geometrizada, signos e aspectos gráficos vinculados à mitologia de cada entidade. Exu, o primeiro orixá no panteão das divindades iorubás, é o mensageiro entre os humanos e os deuses, a corporificação da encruzilhada, e é evocado através de formas que reproduzem os pontos riscados de cada qualidade distinta da entidade (Gira Mundo, Tranca Rua, Caveirinha), compostos por tridentes, lanças, círculos etc. A ferramenta de Ogum, entre as suas variações, trará sempre um arco de onde penderão utensílios agrícolas (machados, pás, facas, foices, lanças, martelos, enxadas, tesouras), sempre em número 7 ou seus múltiplos. Oxóssi, o caçador, tem como símbolo maior o arco e a flecha, seus instrumentos. Ossain, o senhor das ervas, frequentemente contará com folhas e um pássaro no topo de sua ferramenta. Oxumarê, termo de origem iorubá que significa “arco-íris”, é o orixá dos ciclos e da transformação, sendo frequentemente simbolizado por uma ou mais serpentes que envolvem a haste principal da escultura.

Para Adário, trabalhar com o ferro é se inscrever na linhagem de descendentes de Ogum a que pertence: seus pais, avós e bisavós todos tinham alguma relação com esse orixá. E, como explica Farris Thompson, Ogum “vive nas chamas da forja do ferreiro, no campo de batalha e, mais especificamente, no fio da faca.” Assim, a prática de José Adário é uma forma de conexão e reverência à entidade. Para além da destreza técnica, fazer as ferramentas de santo requer sensibilidade para que se possa captar os desejos do orixá que dará vida e energia ao artefato. É como se a construção de cada ferramenta partisse do anseio da própria entidade em materializar-se no mundo, sendo o artista, neste caso, o mediador, unindo o campo espiritual e material. Não por acaso, Adário também é considerado um grande babalorixá.

O reconhecimento do trabalho escultórico de José Adário não vem de hoje. Em 1968, o estadunidense historiador da arte Robert Farris Thompson (1932-2021), especialista em arte e cultura afro-americana, conheceu a produção de Adário em visita à cidade de Salvador, incorporando-o à sua pesquisa. Assim, podemos encontrar menções e análises das esculturas em diversos livros e artigos de sua autoria, como Icons of the Mind: Yoruba Herbalism Arts in Atlantic Perspective [Ícones da mente: artes do herbalismo iorubá na perspectiva atlântica] (1975), Flash of the Spirit: African & Afro-American Art & Philosophy [A carne do espírito: arte & filosofia africana e afro-americana] (1983) e Face of the Gods: Art and Altars of Africa and the African Americas [A face dos deuses: arte e altares da África e das Américas Africanas] (1993). Em todos eles, Farris descreve e relaciona os signos abordados por Adário com a iconografia e liturgia dos povos iorubás, cujas tradições foram trazidas ao Brasil por populações negras escravizadas vindas dos territórios que hoje são países como Nigéria, Benin e Togo.

Já a inserção de José Adário no circuito brasileiro das artes se deve, em grande parte, às iniciativas curatoriais do artista e curador Emanoel Araújo (1940-2022) a partir da década de 1990. Adário esteve presente em algumas das principais exposições em que Araújo pôde reunir e difundir a arte e a cultura afro-brasileira. Hoje, o reconhecimento em torno do seu trabalho continua a crescer: em 2024, foi incluído no 38º Panorama da Arte Brasileira, no MAM São Paulo. Em 2023, foi contemplado com o Prêmio Funarte Mestras e Mestres das Artes e contou com a exposição Alágbedé — Retrospectiva de José Adário dos Santos na Caixa Cultural Salvador. Sua obra faz parte de importantes coleções permanentes, tais como: Kadist (São Francisco, USA), El Museo del Barrio (Nova York, EUA), Museu Afro Brasil (São Paulo, Brasil) e Pinacoteca de São Paulo (São Paulo, Brasil).

Para Alana Silveira, curadora e diretora da Galatea Salvador “O stand solo de José Adário dos Santos em Miami Art Basel é uma marco na internacionalização da obra do artista, que já faz parte de algumas coleções internacionais. Adário ficou muito entusiasmado e lisonjeado com a sua participação na feira e produziu um conjunto especial de obras para a mostra. Podemos observar nessa produção um grande número de Exus ligados a Xangô, Orixá da justiça. No stand também encontraremos as demais esculturas de orixás que trabalham com o ferro, como Ogum, Oxossi, Ossain e Tempo.”

Sobre o artista
José Adário dos Santos (1947) nasceu no bairro de Caixa d’Água, Salvador, Bahia. Aos 11 anos de idade, iniciou-se no ofício de ferreiro de santo com o seu mestre e mentor Maximiano Prates. Desde então, fabrica portões, agogôs e ferramentas de santo: instrumentos de percussão e esculturas de ferro que operam uma espécie de mediação entre os homens e os deuses no candomblé.

Pela originalidade e consistência de seus objetos, José Adário passou a ser não só o escultor-ferreiro mais celebrado dos terreiros de candomblé da Bahia, mas um artista reconhecido por honrar as raízes afro-diaspóricas que povoam a cultura de sua região. Baseado nos costumes do candomblé, nos cânones da arte Iorubá e nas diferentes expressões possibilitadas pelo ferro, José produz, assim, esculturas que percorrem terreiros, museus, coleções e galerias, dando vida a entidades sagradas e dialogando com a potência férrea de seus ancestrais e de Ogum, aquele que rege a matéria-prima do seu trabalho: o ferro.

Em 2023, o artista foi contemplado com o Prêmio Funarte Mestras e Mestres das Artes. Entre as suas principais exposições estão: ALÁGBEDÉ — José Adário dos Santos (Individual, Caixa Cultural Salvador, 2023)José Adário (Individual, Galatea, São Paulo, 2022); Alagbedé - O Ferreiro dos Orixás (Individual, Arco 26, Salvador, 2021); 38º Panorama da Arte Brasileira (Coletiva, Museu de Arte Moderna de São Paulo — MAM SP, São Paulo, 2024); Something Beautiful: Reframing La Colección (Coletiva, El Museo del Barrio, New York, 2023); A Cidade da Bahia, das baianas e dos baianos também (Coletiva, Museu Afro Brasil, São Paulo, 2019; Axé Bahia: the power of art in an Afro-Brazilian metropolis (Coletiva, Fowler Museum, Califórnia, 2018); Afrikanische Religiosität in Brasilien; Kunst und Afro-Brasilidad (Coletiva, Frankfurter Kunstverein, Frankfurt, 1994). Suas esculturas fazem parte do acervo de coleções permanentes tais como: El Museo del Barrio, New York, USA; Kadist, San Francisco, USA; Museu Afro Brasil, São Paulo, Brasil; Museu da Cultura Nacional Afro-Brasileira – Muncab, Salvador, Brasil; Pinacoteca de São Paulo, São Paulo, Brasil.

Sobre a Galatea
Sob o comando dos sócios Antonia Bergamin, Conrado Mesquita e Tomás Toledo, a Galatea conta com dois espaços vizinhos na cidade de São Paulo: a unidade localizada na Rua Oscar Freire, 379 e a nova unidade localizada na Rua Padre João Manoel, 808. A galeria também tem uma sede em Salvador, na Rua Chile, 22, no centro histórico da capital baiana.

A Galatea surge a partir das diferentes e complementares trajetórias e vivências de seus sócios-fundadores: Antonia Bergamin, que foi sócia-diretora de uma galeria de grande porte em São Paulo; Conrado Mesquita, marchand e colecionador especializado em descobrir grandes obras em lugares improváveis; e Tomás Toledo, curador que contribuiu para a histórica renovação institucional do MASP, saindo em 2022 como curador-chefe.

Com foco na arte brasileira moderna e contemporânea, trabalha e comercializa tanto nomes consagrados do cenário artístico nacional quanto novos talentos da arte contemporânea, além de promover o resgate de artistas históricos. Idealizada com o propósito de valorizar as relações que dão vida à arte, a galeria surge no mercado para reinventar e aprofundar as conexões entre artistas, galeristas e colecionadores.

Art Basel Miami Beach 2024
Galatea | Estande [Booth] P04
José Adário: On Ogun’s Path [no caminho de Ogum]
Preview [Convidados] 
Wednesday and Thursday, December 4th and 5th | 11am–7pm
[quarta e quinta-feira, 6 e 7 de dezembro | 11h às 19h]

Public [Público]
Friday to Sunday, December 6th to 8th | 11am–6pm  
[sexta-feira a domingo, 6 a 8 de dezembro | 11h às 18h]

More Information  [Mais informações]: https://www.galatea.art/
Instagram: @galatea.art_

Créditos: Edgard Silveira | A4&Holofote Comunicação

* Este conteúdo foi enviado pela assessoria de imprensa

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