Renato Teixeira e Fagner celebram parceria em 2º álbum pela Kuarup com vários convidados e lançamento em CD e plataformas digitais *
Raimundo Fagner e Renato Teixeira. Créditos: Leo Rodrigues |
Disco Destinos tem as participações especiais de Zeca Baleiro, Roberta Campos, Evandro Mesquita, Roberta Spindel, Isabel Teixeira e Chico Teixeira
Quando Destinos espontaneamente surgiu no horizonte, só trazia a
intenção de continuar uma conversa musical entre dois parceiros que haviam
acabado de finalizar Naturezas, álbum de 2021 lançado pela gravadora Kuarup e nem
perceberam o ponto final da conclusão. Apenas continuaram a compor naturalmente
sempre apoiados pelo maestro Maurício Novaes que havia embarcado na viagem dos
parceiros desenhando arranjos inspiradíssimos e organizando tudo para que não
se perdesse o rumo das coisas. O horizonte estava lá com sua proposta
irreversível: mais um álbum com composições da dupla Renato Teixeira e Raimundo
Fagner, que sai em versão CD e nas plataformas digitais no dia 8 de novembro
pela Kuarup. Dessa vez resolveram dividir as interpretações com os amigos:
vieram Zeca Baleiro, Roberta Campos, Chico Teixeira, Evandro Mesquita, Isabel
Teixeira e Roberta Spindel.
E aos poucos com muita paciência e tempo, as coisas foram se ajeitando.
Não existe na parceria nenhuma intenção além da de criar músicas que falem por
si, que transmitam uma ideia lógica e perceptível, sonora, agradáveis de se
ouvir, a vocação melódica de Fagner e o raciocínio poético do Teixeira,
interpretados por vozes indiscutíveis e capazes de dizer as coisas com clareza
e emoção. No trajeto do trabalho perdemos o Elifas Andreato, que estava sempre
junto desde o começo, para compor o material visual do projeto e que havia se
deixado levar por essa parceria até certo ponto improvável, mas perfeitamente
compreensível por se tratar de dois amigos que vinham desde os princípios dos
anos setenta se programando por uma coisa assim. O designer gráfico Elifas já
havia desenhado essa relação no primeiro trabalho. Com sua partida nada mais
lógico que convocássemos seu filho e parceiro, o Bento Andreato, para desenhar
o novo material do álbum Destinos. Uma linda e emocionada escolha.
A mixagem e masterização mais uma vez correu por conta do Ricardo Franja
Carvalheira que com o apoio do maestro Novaes, deu o formato final aos fonogramas.
Não foi nada muito complicado. A Kuarup apoiou e sua equipe deu a retaguarda
para que o projeto se realizasse. Estamos vivendo um momento de grandes
explosões musicais que destroem células e reorganizam sonoridades. O espaço
musical generosamente ampliou seu raio de ação e o comportamento sonoro da
humanidade ganhou novas dinâmicas. Em Destinos, Renato e Fagner mostram que
apesar das novas tendências, trabalhos como os deles permanecem vivos e aptos a
novas aventuras onde a competência que os consagraram continua a criar lindas
canções, construídas com talento e emoção, brasileiras, comoventes, dignas de
representarem a cultura musical de um país onde cantar faz parte da vida.
Faixa a faixa
Romaria: os sotaques brasileiros fazem parte da composição que conta a
saga de um romeiro rumo a Aparecida do Norte para saudar Nossa Senhora
Aparecida, padroeira do Brasil. O sotaque Fagner é uma chancela que deixa a
canção mais significativa, mais efetiva na sua missão de representar a fé do
povo brasileiro. Se sente na visceral interpretação do nosso grande cantor, o
poder da fé, seja ela qual for, irradiando a energia que nos move e nos toca.
Romaria vai ficando cada vez mais pronta a cada intervenção como essa de
Raimundo Fagner que a redimensiona e a deixa ainda mais brasileira, mais nossa.
Blues 73: com Evando Mesquita e Renato Teixeira elogiando um ano muito
emblemático e significativo na história recente. O ano de 73 tem quase o mesmo
poder de 68 pois foi também um ano transformador, uma porta que se abriu para
confirmar a chegada definitiva de todas as modernidades que se sucederam. O ano
de 1973 foi uma confirmação, uma encruzilhada no tempo onde uma parte de nós
seguiu o caminho da ousadia, da transformação e a outra acomodou-se e aceitou
as condições impostas pelas tradições conservadoras. A leveza da canção e a
interpretação de dois personagens que conheceram e saborearam esse momento
sútil onde muitas coisas aconteceram nas praias e nas artes do Brasil, tem um
sabor definitivo. A paz se fez no Vietnã, o celular foi inventado e o mundo foi
em frente como sempre. Quem viveu, deixe-se envolver, quem não esteve lá,
deixe-se levar e solte a imaginação para sentir as aragens de uma época mais
simples e menos complexa da nossa história moderna. Cabeça fresca. Curta e
aproveite. Manera, Fru-Fru, Manera.
Arde Mas Cura: tem a participação da cantora carioca Roberta Spindel que
o Fagner descobriu numa de suas andanças pelas tribos de músicos no Rio de
Janeiro. Renato tem uma relação afetiva com a filosofia Noelina que caracteriza
as músicas que avaliam comportamentos voltados para o bem viver, para a
compreensão do nosso dia-a-dia com suas idas e vindas. “Quem chega mais cedo
vai ter que esperar” é a referência filosófica de uma canção que nos situa
dentro do tempo que, com certeza, as vezes arde, mas cura. Uma canção quase
caribenha que propõe uma reflexão sobre a arte de viver. Roberta solta a voz
com a energia necessária e, com o contra ponto do jeito mais comportado que o
Renato tem de cantar, criam um dos momentos mais dinâmicos desse disco Destinos
que os parceiros, Fagner e Renato, criaram para o mercado da boa música
brasileira, aquela que não quebra, não rasga e não enferruja.
Dominguinhos: o grande músico pernambucano Dominguinhos teve uma ligação
artística bastante intensa com Renato Teixeira e Fagner. Para Renato
Dominguinhos contou sua história, que começa com ele menino, aos dez anos
tocando, na feira de Garanhuns, em Pernambuco, quando surge em sua frente o
grande Luiz Gonzaga, patrono de todos os sanfoneiros, que se encanta com a
musicalidade do pequeno Dominguinhos. Numa premonição impressionante seu Luiz
pede ao menino que o procure no Rio de Janeiro assim que fizer 18 anos. Iria
lhe dar uma sanfona nova e o orientaria no rumo das canções. Estava assim
escrito o destino de um dos maiores músicos e compositores que esse país já
conheceu. Renato e Fagner, que teve com Dominguinhos momentos inesquecíveis,
estavam com certeza apenas esperando que o Deus das inspirações enviasse uma
mensagem clara para contarem a história desse amigo e mestre. A mensagem veio
numa melodia inspiradíssima do magnífico melodista de Mucuripe e Renato intuiu
que havia chegado a hora da história de Dominguinhos ser contada através dessa
canção que, além de emocionante, trazia dentro dela as palavras certas que
contam o primeiro encontro do pequeno sanfoneiro com o sanfoneiro maior e o
destino que o tempo deu para esse momento mágico acontecido um dia em
Garanhuns. Fagner canta Dominguinhos com o tempero exato e a emoção vibrando a
cada nota. Um dos momentos mais bonitos do projeto Destinos quando a história
recente da música brasileira vem à tona para contar, principalmente para as
novas gerações, o porquê da nossa música ter toda essa grandeza, artistas que
vão se encontrando pelo caminho, transferindo um para o outro a missão de
elevar cada vez mais o estilo musical de um país onde Chiquinho do Acordeom,
Oswaldinho, Sivuca e Cezinha, entre tantos outros magníficos instrumentistas,
puxaram e puxam o fole da eternidade como fez Dominguinhos, como fez Luiz
Gonzaga, todos Reis do Baião. Toca pra nós, Dominguinhos.
Magia e Precisão: Fagner surpreende com a melodia de Magia e Precisão
onde fica evidente sua musicalidade acima da média. Estamos diante de um
melodista que está no topo da música brasileira ao lado dos grandes mestres
melodistas que ao longo dos tempos nos revelaram nomes como os dos mestres
Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Ary Barroso, Carlos Lyra e Tom Jobim, só para citar
alguns. A delicadeza e expressão de Magia e Precisão encontraram nos versos de
Renato, as palavras certas para uma canção que exalta o feminino com poesia e
delicadeza. Fagner e Renato escolheram Isabel Teixeira para cantar com eles e
arrematar o conteúdo poético quando, depois das ponderações a respeito da magia
e da precisão na programação da vida, revelam a conclusão da jovem romântica
que aguarda o grande amor e sabe bem como identificá-lo na hora certa. A
intervenção precisa e incisiva de Isabel, filha de Renato Teixeira, revela uma
artista que além de grande atriz traz no seu DNA a cantora que faz jus a
história de muitas outras mulheres da família que cantavam sempre e muito por
amor à arte e por prazer, sempre com Magia e Precisão.
O Prazer de Lembrar é Bom: essa música nos remete aos melhores momentos
de nossas vidas quando estávamos nos preparando para encarar o futuro do tempo.
Sútil e delicada a canção nos atinge com seu imenso poder poético e mexe com
nossas lembranças mais significativas quando o tudo que tínhamos na vida era o
vento soprando em nosso rosto em uma alegoria de imagens generosas e felizes. A
participação de Zeca Baleiro com sua voz cortante e incisiva cria uma ambiência
que reforça o texto e insere a mensagem nos tempos atuais onde a dinâmica da
vida tira as crianças da rua e dos costumes mais simples que fizeram parte da
vida num passado recente e sem dúvida bem mais confortável. A sonoridade das
vozes de Zeca e Renato e o lindo arranjo do maestro Maurício Novaes fazem dessa
canção um dos melhores momentos do álbum Destinos. Uma canção para se ouvir em
silêncio e se deixar levar pelas memórias da vida.
Quando For Amor: quando amor chega é sempre assim. Materializa-se no ar
como uma visagem que invade o coração e aquece a vida, clara e objetivamente,
não importando o tempo que, segundo Vinicius, será eterno enquanto durar. Se
contrapondo a mensagem da descoberta cantada e contada pela magnífica cantora
Roberta Campos temos a voz de Fagner colocando o outro lado da descoberta do amor
quando não devemos esquecer que o destino tem suas regras e que precisamos
cuidar dos nossos sentimentos com inteligência e realismo porque a vida segue
com suas verdades implacáveis. É preciso cuidar do amor porque ele vai deixando
rastros como a flor que nasce nos lugares improváveis e acaba criando poderes
que podem embaçar a beleza do mais belo sentimento que existe sobre a terra.
Espinho sem a flor depois do vendaval. Melancólica e comovente fica a certeza
de que quando for amor a gente vê.
Amor Amar: canção para começar o dia. Uma maneira de encarar a vida com
seus altos e baixos porque a felicidade é uma luz que sai do chão. Não há o que
fazer contra o que virá no próximo minuto, na próxima hora, no próximo ano.
Tudo depende também do acaso e a gente tem que estar atento ao plano de vida de
cada um para diminuir o risco de existir, para trazê-lo para o que nosso
controle seja capaz de dominar. O dueto Renato e Fagner cria um ambiente de
eterna expectativa e o enredo da canção flui sereno e forte para que as pessoas
possam entrar no raciocínio quase fatalista do que está sendo dito. Deixa o
destino tocar porque tudo vem e vai, porque o segredo é o saber se dar para
poder ser feliz. Uma canção companheira que nos ajuda a prestar atenção no que
virá porque logo em seguida tudo já terá sido, com certeza.
Linda Flor da Madrugada: Capiba foi um compositor pernambucano criador
de frevos imortais e um personagem marcante na nossa história musical pelo
talento e simpatia que o caracterizavam. Fagner colocou Linda Flor da Madrugada
no seu primeiro álbum e como não tinha o acesso que temos hoje para identificar
a origem de músicas muito antigas, deixou indefinida a autoria. A música então
ressurge naquela primeira gravação de Fagner diferente da original que era um
frevo de carnaval. O interessante é percebermos que ela havia sofrido uma
releitura que só preservava alguns detalhes da primeira versão, mas continuava
alegre e comunicativa como sempre. E o mais importante, continuava totalmente
Capiba. No álbum Destinos ela surgiu para ser interpretada por Renato, Fagner e
Almir Sater, que devido ao seu compromisso com a novela Renascer, onde foi o
personagem libanês Rachid, não conseguiu participar por absoluta falta de
tempo. Então Fagner e Renato fizeram o serviço e Capiba entra na história por
uma alegre coincidência. E isso é um detalhe tão imprevisível e surpreendente,
que decidimos colocar Capiba como patrono de Destinos numa homenagem póstuma
que representa o vínculo dos dois parceiros com a essência da música brasileira,
força motriz da maior manifestação popular do nosso povo. E viva Capiba!
Travesseiro e Cafuné: todos nós em algum momento da vida sentimos esse
tipo de ansiedade relacionado a uma situação afetiva, uma pessoa que está
distante, mas a data marcada para o esperado reencontro já está marcada. Um
tipo de situação que faz a gente perder o sono tamanha a expectativa que
antecede esse momento. Que me leve um pé de vento porque a distância que foi
chegando e te levou de mim, está prestes a ser vencida e eu vou me atirar nos
seus braços numa situação de absoluto conforto amoroso. Travesseiro e Cafuné,
uma canção divertida que mexe com um sentimento comum a todo ser humano. Aqui
os parceiros brincam com situações de idas e vindas, do tempo indo, a saudade chegando
e a distância afastando você de mim numa correlação poética entre a aflição e
ansiedade de quem está indo, louco pra chegar. Fagner e Renato convidaram o
cantor Chico Teixeira, filho de Renato, para compor esse trio aflitivo indo ao
encontro de quem também está esperando esse momento. Que me leve um pé de vento
até onde você está, porque a distância que veio vindo e te levou de mim, está
prestes a ser vencida. Que cada um coloque o seu momento, viaje na memória e
sinta como é bom um travesseiro macio e um cafuné da pessoa amada.
Texto sobre maestro Maurício Novaes
Gentil como o maestro Arruda Paes, veloz como Chiquinho de Moraes e
ousado como Rogério Duprat, esse é o nosso maestro Maurício Novaes sem o qual
não teríamos conseguido criar essa obra que, por razões como essa, chama-se
Destinos. Maurício pegou para si a missão de transformar nossos delírios e
inconstâncias em algo sólido, objetivo e efetivo. Faz parte desse trabalho
definindo-o com o trabalho de um trio de artistas onde melodias, poesias e
arranjos compõem o todo musical, o ambiente sonoro de expressão musical
comprometida com a música popular brasileira. Ele é o Espírito Santo dessa
empreitada. Nossa eterna gratidão ao talentosíssimo maestro Maurício Novaes por
ter nos permitido realizar essa obra que a partir de agora faz parte da nossa
história. Obrigado maestro.
Texto escrito e assinado por Renato Teixeira e Fagner
Smart link do CD: https://www.transfernow.net/dl/20241112kmtedp5m/cAAWtYIG
Agradecimentos: Daniela Ribeiro | Tempero Cultural
* Este conteúdo
foi enviado pela assessoria de imprensa
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