Luisa Strina e Galatea realizam visita guiada nas exposições de Cildo Meireles *
Foto meramente ilustrativa. |
Visitação com Diego Matos, no dia 13 de novembro, às 19h, apresenta "Uma e algumas cadeiras/Camuflagens" e "Cildo Meireles: desenhos, 1964-1977"
As galerias Luisa Strina e Galatea realizam
visita guiada com Diego Matos nas exposições “Uma e
algumas cadeiras/Camuflagens” (Luisa Strina) e “Cildo
Meireles: desenhos, 1964-1977” (Galatea), no dia 13 de
novembro, às 19h.
Exibida pela primeira vez na Galeria Lelong, em Nova York, em
2023-4, a instalação Uma e Sete Cadeiras (1997-2023) faz referência à
obra One
and Three Chairs (1965), do artista Joseph Kosuth, considerada
uma das obras seminais da arte conceitual. A instalação começa com a estrutura
de uma cadeira simples de madeira; esse objeto é replicado e modificado em
outras seis variações de uma cadeira construídas com materiais diversos: vidro,
serragem, cinza, entre outros. Uma sétima variação, posicionada ao lado
do conjunto central, consiste de uma torre de lâminas de acrílico em cujo
interior distinguimos a forma imaterial de uma cadeira, destacando a ideia de
vazio.
O vazio é um elemento constantemente abordado pelo artista em sua prática, como
acontece na obra Esfera Invisível (1996) e na instalação Desaparecimentos (1982).
Segundo Meireles, “me interessa essa coisa evanescente, ou seja, uma espécie de
dissolução do objeto. Existe o desejo de jogar com a visão, uma espécie de
invisibilidade da invisibilidade. São trabalhos que possuem uma autonomia quase
de objeto semântico. É como a Esfera Invisível, que trata de uma existência
constituída de inexistências”.
Em diálogo com a instalação, Cildo apresenta duas pinturas da série Épuras,
conceito derivado da geometria descritiva para designar a representação
planificada de objetos tridimensionais. Nessas obras, o artista combina
representações do objeto cadeira em diferentes perspectivas, sendo uma delas um
políptico de quatro partes, e a outra um tríptico que replica a estrutura
tridimensional das reconhecidas obras de sua série Cantos.
Na sala 2 da galeria, o grupo de obras apresentadas em Camuflagem também lida com questões relativas ao objeto e à representação. Nesses trabalhos, a pintura é feita diretamente sobre objetos como guardassois, cadeiras de praia e tendas. Algumas dessas pinturas-objeto são dedicadas a importantes artistas da história: uma cadeira de praia listrada homenageia Jasper Johns; o guarda-chuva monocromático negro, Malevich; e o banquinho de pescador, Volpi.
Sobre a série de pinturas inéditas que será exibida na mostra, o artista comenta: “Camuflagem é um projeto anterior à instalação Uma e Sete Cadeiras e está sendo realizado trinta e seis anos depois. São basicamente pinturas sobre chassis diversos, que remetem a uma funcionalidade. Pintura camuflada em bancos, cadeiras, guarda-chuvas, objetos comuns, de uso diário. Sempre utilizando um objeto que seja constituído de um tecido e uma estrutura.”
A cadeira reaparece na série Camuflagem, dessa vez acompanhada por um banco, um guarda-sol, um guarda-chuva, uma maca e tendas. “Essa parte da exposição, que chamo de Camuflagem, teria outro nome: Pintura de Chão. Pois todas as obras estão pousadas nele.”
A Galatea traz uma seleção de desenhos produzidos desde 1964, quando o artista tinha apenas 17 anos, até 1977. A mostra coloca em destaque o Meireles desenhista, faceta menos explorada em comparação a outras vertentes do seu trabalho. Por outro lado, é essa a sua prática mais constante e longeva. Em entrevista ao curador Hans Ulrich Obrist no número que lhe é inteiramente dedicado da revista francesa Cahiers d’Art, o artista afirma: “Parei de desenhar por cinco anos, de julho de 1968 a junho de 1973. Quando voltei me senti um idiota por ter parado, porque os desenhos são como pontes entre o pensamento e o papel.”
A seleção realizada pela galeria reúne obras tanto dotadas de aspectos figurativos quanto de experimentações abstratas com campos de cor, formas orgânicas, rabiscos e círculos criados a partir das digitais do próprio artista. No âmbito da figuração, as cenas de interiores domésticos e suas linhas, seus mobiliários e personagens evocam temas recorrentes na produção de Meireles, como o espaço, a escala e o objeto; o projeto e a arquitetura; e a crítica à ditadura militar. O diálogo com importantes obras tridimensionais, como as da série Cantos (1967-1968/2008), também é evidente em vários desses desenhos.
O texto crítico de ambas as exposições é assinado pelo curador Diego Matos, um dos editores convidados para o número da Cahiers d’Art dedicado a Cildo Meireles, publicado em 2022; além de co-curador da mostra Entrevendo, individual de Meireles realizada em 2019 no Sesc Pompeia.
Sobre as exposições apresentadas pela Luisa Strina e a Galatea, Matos comenta: “A exposição ‘Uma e algumas cadeiras/Camuflagem’ traz um conjunto de trabalhos inéditos no Brasil que sublinham um dos caminhos bifurcados da já incontornável trajetória de Cildo Meireles: a subversão dos objetos mais ordinários de nossa vida cotidiana, submetendo-os à reestruturação de seus signos, tanto em termos linguísticos como do próprio uso. Ao mesmo tempo, o artista também atualiza uma das primeiras discussões adquiridas pelo debate contemporâneo da arte: o conceito, a ideia e a materialidade do readymade. Ao mesmo tempo, trazer ao público uma seleção generosa de desenhos de Cildo Meireles é tornar visível e acessível a prática mais onipresente na trajetória de mais de 60 anos do artista. Prática, aliás, indissociável de sua produção objetual e instalativa. Feitos em um quarto de hotel, na calada da noite; na calmaria caseira da manhã; ou em ateliê, num momento intervalar de trabalho — seus desenhos nos contam muito de um repertório poético e conceitual que ele encadeou desde o início da sua produção.”
Em 1963, estudou com o artista peruano Félix Barrenechea em Brasília, e morou em Nova Iorque entre os anos 1971 e 1973. É representado pela Luisa Strina desde 1981, onde vem realizando exposições individuais que marcam importantes inflexões de sua prática artística.
Sua obra foi exposta no mundo todo, incluindo as Bienais de Veneza, São Paulo, Istambul, Lyon, Festival Internacional de Arte de Lofoten, Documenta, em Kassel, Alemanha. Em 2023, Meireles foi contemplado com o Prêmio Roswitha Haftmann, o mais conceituado da Europa, sendo o primeiro latino-americano a recebê-lo em 22 anos. Dentre os demais prêmios nacionais e internacionais com os quais foi contemplado ao longo de sua carreira, estão: Prêmio Faz Diferença, O Globo (2019); Prêmio ABCA (2015); Velázquez Prize for Visual Arts, Madrid, Espanha (2008); Prêmio APCA (2007); Honorary Doctorate of Fine Arts, San Francisco, EUA (2005); Officier de L’Ordre des Arts et des Lettres, Paris, França (2005); entre outros.
Realizou exposições individuais em importantes instituições nacionais e internacionais. Dentre as coleções públicas que possuem seu trabalho estão: Museum of Modern Art – MoMA, Nova York, EUA; Tate, Londres, Reino Unido; Stedelijk Museum voor Actuele Kunst, Gent, Bélgica; Instituto Inhotim, Brumadinho, MG; MAC – Niterói; 21st Century Museum of Contemporary Art, Kanazawa, Japão; Fundação Serralves, Porto, Portugal; MACBA, Barcelona, Espanha; Centre Georges Pompidou, Paris, França; Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid, Espanha; Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto, Portugal; Museum für Moderne Kunst, Frankfurt, Alemanha; Los Angeles County Museum of Art – LACMA, EUA; Art Institute of Chicago, Chicago, EUA; New Museum, Nova York, EUA; MASP, São Paulo; MAM-SP, São Paulo; MAM-Rio, Rio de Janeiro; Pinacoteca de São Paulo.
Luisa Strina começou a trabalhar com artistas brasileiros emergentes, como
Alexandre da Cunha, Fernanda Gomes e Marepe. Ao longo dos anos 2000, o grupo
foi ampliado para incorporar nomes latino-americanos — Jorge Macchi, Juan
Araujo e Pedro Reyes — e artistas mulheres já estabelecidas, como Laura Lima,
Leonor Antunes e Renata Lucas. Na última década, a consolidou a sua trajetória
com a representação de nomes influentes incluindo Alfredo Jaar e Anna Maria
Maiolino, assim como artistas mais jovens, como Bruno Baptistelli e Panmela
Castro.
A Galatea surge a partir das diferentes e complementares trajetórias e vivências de seus sócios-fundadores: Antonia Bergamin, que foi sócia-diretora de uma galeria de grande porte em São Paulo; Conrado Mesquita, marchand e colecionador especializado em descobrir grandes obras em lugares improváveis; e Tomás Toledo, curador que contribuiu para a histórica renovação institucional do MASP, saindo em 2022 como curador-chefe.
Com foco na arte brasileira moderna e contemporânea, trabalha e comercializa tanto nomes consagrados do cenário artístico nacional quanto novos talentos da arte contemporânea, além de promover o resgate de artistas históricos. Idealizada com o propósito de valorizar as relações que dão vida à arte, a galeria surge no mercado para reinventar e aprofundar as conexões entre artistas, galeristas e colecionadores.
Créditos: Ana Lima | A4&Holofote
Comunicação
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