Deep Purple: 50 anos de “Stormbringer”
"Stormbringer", do Deep Purple, álbum da MKIII, completa 50 anos de lançamento em 2024 |
Hoje, 16 de novembro, o nono álbum do Deep Purple – “Stormbringer” – completou 50 anos de seu lançamento. O disco marcou o fim da MK III, uma vez que Ritchie Blackmore saiu pela primeira vez da banda em 7 de abril de 1975 (próximo do guitarrista completar 30 anos de vida) em virtude de sua insatisfação com os rumos musicais que o grupo estava a tomar, especialmente a influência da Black Music, mais especificamente funky e soul, de Glenn Hughes.
Gravado no Musicland Studios, em Munique, em agosto de 1974, e mixado no
The Record Plant, em Los Angeles, em setembro do mesmo ano, “Stormbringer” foi produzido por Martin Birch em
conjunto com o Purple.
Apesar de não conseguir igualar-se ao seu antecessor – o estupendo “Burn” -, nas paradas e na aceitação da crítica e do
público, o play alcançou boas colocações nas paradas da Noruega (2º lugar), na
Austrália (4º), enquanto nos Estados Unidos ocupou a 20ª colocação na
Billboard. No entanto, rendeu Disco de Ouro na terra do Tio Sam, no Reino Unido
e na França.
A paciência do carrancudo Blackmore estava a minguar cada vez mais com a
sonoridade que o Deep Purple estava a adotar na ocasião. A tolerância do
guitarrista durou até o término da turnê europeia da promoção do álbum. Pela
insatisfação demonstrava, Ritchie Blackmore praticamente já vinha com o seu
projeto em mente e que tornou-se realidade ainda em 1975 – o Rainbow.
A imagem utilizada na capa de “Stormbringer” é
baseada em um registro fotográfico realizado em 1927 por Lucille Handberg. Na
ocasião, em 8 de julho daquele ano, a fotógrafa captou um furacão perto da
cidade de Jasper, em Minnesota e, a partir de então, a foto tornou-se uma
imagem clássica. A mesma fotografia foi editada e utilizada na capa do álbum “Tinderbox” (1986), de Siouxie And The Banshees.
O disco abre com a clássica faixa-título e que traz a quase inaudível
fala de David Coverdale, antes de entrar os vocais, copiada de um trecho do
filme “O Exorcista” (1973). O grande trunfo da música são o
riff de Blackmore e o vocal furioso de Coverdale. Certamente um dos maiores
clássicos dessa formação do Deep Purple. Em seguida, “Love Don’t Mean A Thing”, que aborda o bon vivant que
só se interessa pelo dinheiro. Aqui temos a mescla do que viria a ser o Whitesnake
de anos mais tarde com o funky do Trapeze de Glenn Hughes. Mesmo fazendo um
trabalho a contragosto, Ritchie manda muito bem ao colocar uma guitarra bem
sacada na música. Posteriormente, vem a bela “Holy Man”, que tem
como protagonista Glenn Hughes, que a interpreta com sentimento. Vale conferir
também o solo cheio de feeling de Blackmore. E o lado A do vinil termina com “Hold On”, em que Coverdale e Hughes fazem dueto e é
outra tipicamente “whitesnakiana”. Sua letra fala de forma bem franca sobre
sexo.
O lado B começa com “Lady Double Dealer”,
uma faixa hard rock clássica, acelerada e batida rápida, porém, o solo parece
um pouco inspirado e a música é relativamente curta, o que é uma pena. A sexta
música é “You Can’t Do It Right”, uma canção totalmente Glenn
Hughes, pois é funky de cabo a rabo. O baixista aqui detona. O antepenúltimo
tema é “High Ball Shooter”, outro hard em que Hughes dá mais um
show, embora seja mais contida em relação a “Lady Double Dealer”.
Destaque também para o desempenho de Ian Paice. O play chega ao final com mais
duas grandes músicas: “The Gypsy”, onde o riffmaster
Ritchie Blackmore executa sua Fender Stratocaster com maestria, numa típica
canção de Rádio FM para ouvir na madrugada. E a clássica “Soldier Of Fortune”, uma balada perfeita escrita pela
dupla Blackmore/Coverdale. Confesso que não sei quem se destaca mais: se é
David cantarolando-a com a alma ou se é o excelente trabalho de Ritchie no
violão e na guitarra. Mas uma coisa é certa: o Deep Purple foi certeiro ao
deixá-la como música de encerramento desse incompreendido álbum.
Para celebrar os 35 anos de seu lançamento, em 2009, “Stormbringer” foi relançado com todas as faixas
remasterizadas, além de alguns bônus e um DVD.
Vocês podem ter notado que na descrição toda do texto o nome de Jon Lord
não foi citado. Isso se deve porque, apesar de não ter comprometido em nada no
disco, o mestre dos teclados pouco apareceu. Na verdade, é que o saudoso
tecladista não se destacou com o mesmo brilhantismo dos trabalhos anteriores.
Mesmo assim, só a presença de Jon Lord já torna algo simples em grandioso. E
mesmo porque o Deep Purple é o que é hoje graças a ele, que justifica o
sobrenome.
Embora não esteja no mesmo patamar que os álbuns anteriores, “Stormbringer” é um disco versátil, criativo e que serve
para mostrar a capacidade que o Deep Purple tem em se reinventar, mas sem
perder a sua essência. Sim, é um daqueles discos que costumo classificar como
“injustiçado”. E digo mais: particularmente, acho que é o segundo melhor
disco (só perde para “Burn”) lançado pelo Deep Purple sem
ser com a MK II.
A seguir, a ficha técnica e o tracklist do disco.
Por Jorge Almeida
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