Zé Ramalho: 40 anos de “Pra Não Dizer Que Não Falei de Rock”
As duas versões da capa de “Pra Não Dizer Que Não Falei de Rock”: álbum de Zé Ramalho que completa 40 anos em 2024 |
Aproveitando que hoje, 3 de outubro, o ilustre filho de Brejo do Cruz, o genial Zé Ramalho, completa 75 anos, vamos abordar a respeito do seu sexto disco de estúdio da carreira solo de Zé Ramalho, “Pra Não Dizer Que Não Falei de Rock”, chega ao seu 40° aniversário. Gravado nos Estúdios SIGLA, no Rio de Janeiro, o disco foi produzido pelo cantor em parceria com Mauro Motta e lançado pela Epic (CBS – Sony Music).
Após os resultados decepcionantes de seus últimos discos, Zé Ramalho adentrou em 1984 disposto a impactar com um novo álbum: chocar a crítica e o público, pelo menos sonoramente falando. Para isso, o cantor paraibano optou em gravar uma série de rocks que fizera entre 1974 e 1975, quando ainda estava no Nordeste.
Para o projeto, Zé convidou alguns artistas da Jovem Guarda, como Erasmo Carlos, Wanderléa e Golden Boys, além dos teclados de Lafayette e o baixo de Paulo César Barros.
E,
no período da elaboração do álbum, o compositor ficou hospedado no luxuoso
Hotel Meridien, por cerca de dois meses, regado a farras com bebidas
importadas, refeições caras e uso abusivo de drogas. E o saldo dessa
“brincadeira” ultrapassou a casa dos cem mil dólares. Com isso, ele foi
procurado por Marcos Maynard, presidente da gravadora, e ficou ciente que iria
repor todas as despesas sobrepujantes. Para sorte dele, que “Mistérios da Meia-Noite”
vendeu mais de 300 mil cópias e lhe salvou do prejuízo.
A
fissura de Zé Ramalho em “impactar” a todos com esse disco foi tanta que ele
tinha como plano parodiar a capa de “Rock ‘N’ Roll” (1975), de John Lennon, mas o fotógrafo
Frederico Mendes deu um “jeitinho brasileiro” ao propor que o play tivesse duas
capas para marcar essa mudança. De um lado, Zé aparecia ainda com o seu visual
tradicional, deitado nos braços de uma bela mulher (que teve como modelo
Marelise, filha de seu amigo Zé do Caixão, e, na época, namorada do cantor),
além da jiboia Rita. Enquanto isso, do outro lado, o artista foi clicado com
barba raspada, cabelos cortados e trajando uma jaqueta de couro ao melhor
estilo “rocker”.
Evidentemente
que, para utilizar o título da obra, Zé Ramalho pediu ao amigo Geraldo Vandré
para fazer o trocadilho com o nome da clássica “Pra Não Falar Que Não Falei de
Flores”, originando o longo título “Pra Aquelas Que Foram Bem Armadas… Ou… Pra Não Dizer Que Não Falei
de Rock”.
Quando
o play foi lançado, a crítica malhou o disco e a maioria questionava se Zé
Ramalho havia se rendido às vontades da gravadora ao tirar a sua barba. Porém,
na verdade, aconteceu justamente o contrário: a gravadora não queria a mudança
da imagem do cantor.
Com
temas compostos antes da era “Avôhai”,
o material foi feito nos tempos em que Zé Ramalho era guitarrista de grupos de
baile, quando ele mergulhara no universo do Rock/Pop. A alteração sonora, à
época, causara estranheza por conta da estética musical que ele trazia e muitos
não digeriram a fundição de rock com a música nordestina. Além dos citados
nomes da Jovem Guarda, a cantora Zezé Motta e os músicos Pepeu Gomes, Lincoln
Olivetti e Sivuca.
Apesar
de fugir ao estilo que marcou a trajetória do cantor, a obra traz músicas bem
interessantes, como as agitadas “Made In PB” com a inconfundível guitarra de Rick
Ferreira, famoso com trabalhos com Raul Seixas, “Frágil” (com o baixão conduzindo a canção de forma
estupenda e o solo fabuloso de órgão), a ótima versão de “The Fool On The Hill”,
da dupla Lennon/McCartney, feita em parceria com Erasmo Carlos e que foi
intitulada como “O
Tolo na Colina”, o puro protesto de “Dogmástica”, a homenagem à cidade-natal do cantor:
“Brejo do Cruz”
e “Jacarepaguá Blues”,
com a participação especialíssima do saudoso Manito que, para variar,
arrebentou no sax.
Apesar
de ter sido marcado como um disco “meio maldito” entre os fãs, a obra é bem
interessante para quem não conhecia a faceta “roqueira” do nosso Bob Dylan
tupiniquim.
Vida
longa à Zé Ramalho.
A
seguir, a ficha técnica e o tracklist da obra.
Por
Jorge Almeida
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