Últimas Semanas: Exposição Gratuita "60 Anos da Moda Brasileira" em SP *
A exposição acontece de quinta a domingo, no Museu A CASA do Objeto Brasileiro, e oferece ao público a oportunidade de conhecer e apreciar a história e a diversidade da moda nacional.
A exposição “60 anos da Moda Brasileira”, que
integra o projeto “Núcleo de Moda e Design”, com realização do Instituto São
Paulo de Arte e Cultura e Secretaria da Cultura, Economia Criativa e Indústria
Criativas do Estado de São Paulo, propõe trazer uma mostra abrangente que
destaque e celebre a evolução da moda brasileira nos últimos 60 anos.
A iniciativa apresenta a diversidade e a riqueza
criativa presente no cenário da moda nacional, através da seleção criteriosa de
vestuários confeccionados por artesãos convidados. Os 29 artistas foram
escolhidos com base em suas trajetórias profissionais e pessoais, o que garante
personalidade através de abordagens inclusivas e representativas para cada peça
exposta. A cuidadosa curadoria realizada pelas estilistas e professoras
Walquiria Caversan e Nina Florsz teve um papel fundamental na seleção dos
artesãos e na organização da exposição.
A mostra se justifica como uma importante
ação cultural e social, pois valoriza e potencializa a cadeia produtiva da
moda, reconhecendo-a como uma forma de expressão artística e criativa. O
vestuário é mais do que simplesmente roupa, é uma manifestação cultural que
reflete identidades, valores e épocas. Ao apresentar uma retrospectiva da moda
brasileira, a exposição proporciona uma oportunidade para o público
conhecer e apreciar a história e a diversidade dessa forma de expressão.
"'60 Anos de Moda Brasileira' é um convite ao
público para refletir sobre as transformações sociais, políticas e culturais de
cada época, começando por um período que revolucionou a cultura no Brasil, a
década de 1960. Como curadora, sinto-me honrada pelo presente e pela
oportunidade de trazer a moda para o espaço do museu, especialmente no Museu A
CASA do Objeto Brasileiro, que valoriza a brasilidade e o saber artesanal. Esta
mostra oportuniza jovens estilistas, muitos com formações oriundas de projetos
sociais, a apresentarem suas visões e perspectivas únicas em lugar onde a moda
é valorizada como expressão cultural. Cada criador, através da reinterpretação
dos estilos de cada década mostrará o resultado de seus processos criativos, em
peças únicas especialmente desenhadas para ocupar esse espaço." comenta
Walquiria Caversan, curadora da exposição.
A exposição também serve como um espaço para a
experimentação e a inovação, permitindo que os participantes explorem novas
criações baseadas em modelos originais ou que apresentem novas interpretações e
abordagens no Brasil. Isso contribui para o fortalecimento da moda como
expressão artística e para o enriquecimento do cenário criativo brasileiro.
Artistas como Ronaldo Fraga, Zuzu Angel, Walério Araújo e Denner Pamplona de
Abreu são revisitados sob a ótica dos 29 artistas e trazendo aspectos de suas
próprias vidas e meios onde estão inseridos.
“Do tropicalismo aos dias atuais, a moda brasileira
sempre foi um mosaico de diversidade e riqueza. A exposição '60 Anos de Moda
Brasileira' celebra essa rica história, mostrando como a moda se transformou ao
longo do tempo, mas sempre mantendo suas raízes e sua identidade única. Através
de um olhar contemporâneo sobre o passado, a mostra revela a força e a
vitalidade da moda brasileira, capaz de inspirar gerações. Através de peças
únicas, criadas por egressos do projeto cultural ‘Ponto da Moda’, o público
poderá apreciar a moda como uma verdadeira forma de arte, capaz de contar
histórias e provocar emoções. No Museu A CASA do Objeto Brasileiro, a moda
encontra um espaço privilegiado para celebrar a nossa brasilidade e a riqueza
do nosso patrimônio cultural.” comenta Nina Florsz, co-curadora da exposição.
Ao trazer à tona a história e a evolução da moda
brasileira, "60 Anos de Moda Brasileira" visa
democratizar o acesso a essa forma de arte, tornando-a acessível a todos os
públicos. Através da exposição de peças temáticas de artesãos brasileiros, o
projeto oferece uma experiência educativa e enriquecedora, permitindo que os
visitantes revisitem o passado, compreendam o presente e vislumbrem o futuro da
moda no Brasil. A exposição também conta com o espaço “DESCOBERTAS” que permitirá
que crianças de 3 a 10 anos explorem e criem suas próprias criações a partir de
peças modulares e sistemas de encaixe.
"Ao realizar uma exposição de 60 dias, o
projeto proporciona uma oportunidade única para o público mergulhar na história
e na evolução da moda brasileira, promovendo o diálogo e a reflexão sobre a
importância da moda como uma forma de expressão cultural e artística. Ao final
da exposição, o catálogo produzido garantirá que o legado desses artesãos seja
preservado e compartilhado com as gerações futuras, garantindo que a
contribuição da moda brasileira para o cenário global seja reconhecida e
celebrada", comenta Márcia Gliosci - Presidente do Instituto São Paulo
de Arte e Cultura.
A exposição "60 Anos da Moda Brasileira"
acontece de 14/9 a 10/11, de quinta a domingo para o público geral, no Museu A
CASA do Objeto Brasileiro, e integra o projeto "Núcleo de Moda e
Design", realizado pelo Instituto São Paulo de Arte e Cultura em parceria
com a Secretaria da Cultura, Economia Criativa e Indústrias Criativas do Estado
de São Paulo. A curadoria da exposição está a cargo da Professora Walquiria
Caversan e co-curadoria da estilista Nina Florsz , que desempenham um papel
fundamental na seleção dos artesãos e na organização do evento.
Obs.: Para documentar e perpetuar o projeto, será
produzido um catálogo abrangente que apresentará detalhes da exposição e dos
artesãos participantes, com registros fotográficos do processo de criação e
fotografias das obras finalizadas.
Sobre o Museu A Casa do Objeto Brasileiro
O Museu A CASA do Objeto Brasileiro é um espaço de
referência do saber artesanal, criado para proteger, difundir e valorizar suas
tradições e técnicas, e que busca atualizá-las no contexto da
contemporaneidade, fazendo um constante diálogo entre o passado, presente e
futuro desses saberes.
A partir de exposições, projetos, programação
cultural, conexões e parcerias culturais e institucionais, o Museu A CASA se
posiciona no centro de um ecossistema que pensa, reflete e fomenta a produção
artesanal.
Ao longo de sua trajetória, que começou em 1997
pelas mãos da economista Renata Mellão, A CASA evidencia a importância do saber
feito à mão para a cultura brasileira, criando pontes entre pessoas, abrindo
espaços de troca de experiências e aprendizagem mútua, e explorando todas as
capacidades de conexão e tradução entre os diferentes mundos desse universo.
O foco principal do trabalho desenvolvido pelo
Museu A CASA do Objeto Brasileiro está, justamente, na manutenção do saber
artesanal com um viés de impacto socioeconômico, onde contribuímos para que as
comunidades artesãs espalhadas pelo país possam também se desenvolver de forma
sustentável e autônoma, além do incentivo a produções ambientalmente
responsáveis, que respeitam os ciclos na natureza e privilegiam a
(re)utilização de materiais próprios a cada território. A CASA reconhece que
esse conhecimento permeia todo o processo de criação manual, e essa filosofia
orienta cada iniciativa da instituição.
Curadoria
Walquiria Caversan
Mestre em Criatividade e Inovação pela Universidade
Fernando Pessoa em Porto/Portugal (2014). Possui Graduação em Desenho de Moda
(1999) e Pós-Graduação em Moda e Criação (2005), ambas pela Faculdades Santa
Marcelina. É docente no Bacharelado em Moda da Faculdade Santa Marcelina desde
2002 , atualmente leciona as disciplinas Processo de Criação, Pesquisa em Moda,
Práticas em Criação, Figurino, Práticas de Criação, Estilismo, Práticas de
Criação e Coleção. É membro integrante das bancas de avaliações e integra o NDE
(Núcleo Docente Estruturante). Tem experiência no desenvolvimento de produto de
moda, além de experiência na área de Artes, atuando principalmente nos
seguintes temas: moda, corpo, tecnologia, superfície e criação. Desde de 2014
coordena os projetos sociais da FASM junto ao Instituto do Câncer do Estado de
São Paulo (ICESP), Ponto da Moda, Instituto Focus Têxtil e Instituto C&A.
Nina Florsz
Graduada em Design de Moda e mestra em
Desenvolvimento Regional, ambas pela Universidade Regional de Blumenau, iniciou
sua carreira no universo da moda, atuando como estilista e produtora de moda.
No entanto, a busca por um propósito mais significativo a impulsionou a
expandir seus horizontes. Como docente, desenvolveu habilidades pedagógicas e
um entendimento das dinâmicas de ensino-aprendizagem, utilizando sua
experiência na moda para inspirar e capacitar novos talentos. A docência e
coordenação do projeto cultural 'Ponto da Moda' foi um marco em sua trajetória,
onde pôde aliar sua paixão pela moda à geração de impacto social, promovendo a
transformação de vidas e a inserção de jovens no mercado de trabalho.
Atualmente, como coordenadora pedagógica na Quest Consult, é responsável pelo
planejamento, gestão e monitoramento de projetos culturais, realizados por meio
das leis de incentivos fiscais. Sua carreia também inclui a atuação como
consultora de gestão e planejamento com ênfase em moda sustentável, capacitando
pequenas marcas para o mercado do Slow Fashion e participação voluntária em
iniciativas que visam promover a inclusão social e a geração de renda para
mulheres em situação de vulnerabilidade.
Sobre os artistas e respectivos projetos (por década)
60’
ÉRICO VALENÇA
Neto de costureira e filho de um sociólogo e uma
professora de linguagens, Érico Valença sempre teve uma mente imaginativa,
despertada por seu interesse em computação gráfica, desenho e astronomia. Com
uma formação acadêmica diversificada, que inclui programação, design gráfico,
design de produto, design de moda, ilustração e fotografia, Érico aprendeu de
forma autodidata a manipular softwares 3D e inteligência artificial, sempre
visando desenvolver seus projetos de moda para concretizá-los no mundo físico.
À frente de sua marca, 'a neoutopia', Érico instituiu um desenvolvimento de
produto predominantemente digital. O estudo de formas, modelagem plana e
moulage são realizados com software 3D e inteligência artificial, enquanto a
impressão 3D é utilizada para criar acessórios, aplicações e acabamentos. Esse
processo contribui para uma produção mais sustentável e justa, com menos
desperdício, produção sob demanda e sem a necessidade de testes físicos e
descarte na pilotagem. As matérias-primas são majoritariamente orgânicas,
recicladas ou resgatadas do descarte industrial.
Projeto: O projeto é uma extensão da coleção Kosma
Laborepoko, apresentada na última edição da Casa de Criadores, que faz
referência ao período da corrida espacial da década de 60. 'Kosma Laborepoko' -
do esperanto, 'era do trabalho cósmico' - referencia a corrida espacial da
década de 1960 e o período de otimismo tecnológico dos anos 1990. Inspirada
pelas ficções de Asimov, a coleção é ambientada em uma nave espacial,
interpretando as relações de trabalho neste contexto futurístico. O projeto
apresenta o que poderia ser o uniforme da tripulação em um futuro em que o
próprio conceito de uniforme, conforme conhecemos, tornou-se obsoleto e foi
substituído pela computação espacial. Agora, os tripulantes vestem-se para o
trabalho não mais para comunicar hierarquia, mas para expressar a
individualidade. A silhueta esguia dos anos 1990 é misturada com referências
espaciais das formas das peças características dos anos 1960, sob um olhar
contemporâneo que utiliza tecidos plastificados, transparências, casacos
longos, linguetas, botões metálicos, recortes circulares e uma cartela de cores
frias. Tudo isso constitui a moda dos tripulantes da nave. Kosma Laborepoko
explora um futuro em que a moda transcende sua função tradicional e se torna
uma forma de expressão pessoal, refletindo uma era de trabalho cósmico e
inovação tecnológica.
TAMIRES CORREA
Tamires Correa desde cedo demonstrou talento
criativo. Em 2022, teve a oportunidade de participar do projeto Ponto da Moda,
onde lançou sua primeira coleção intitulada "Aflora" e criou sua
própria marca, Estigma. Atualmente, Tamires está participando da 6ª edição do
projeto Cria Costura, que incentiva jovens em situação de vulnerabilidade
social a alcançarem estabilidade financeira através da moda. Sob a orientação
de Jefferson de Assis, ela foi convidada para expor seu trabalho na prestigiada
São Paulo Fashion Week, apresentando uma pesquisa voltada para a memória
pessoal. Suas peças refletem uma abordagem consciente e responsável da moda,
utilizando sobras de materiais para o desenvolvimento das peças com o intuito
de maximizar o aproveitamento dos tecidos e reduzir os resíduos têxteis. A
trajetória de Tamires é marcada por sua capacidade de transformar desafios em
oportunidades. Ela mostrou uma habilidade para integrar a sustentabilidade e a
responsabilidade social em seu trabalho. Sua participação no Cria Costura é um
testemunho de seu compromisso com a inclusão e o empoderamento de jovens
talentos, com uma visão artística enraizada em suas experiências pessoais e no
respeito pelo meio ambiente.
Projeto: A década de sessenta, marcada pela força da juventude, trouxe mudanças significativas no cenário da moda e na sociedade. Este período é lembrado pela liberdade do corpo feminino, simbolizada pelo início do uso da minissaia, que Mary Quant popularizou, desafiando as convenções sociais e liberando as mulheres das restrições das saias longas e conservadoras. A expressividade do movimento hippie também deixou uma marca permanente na moda, com suas estampas psicodélicas, padrões florais, e o uso de tecidos naturais como algodão e linho, refletindo uma atitude de rebeldia e busca por autenticidade. Um dos eventos mais icônicos da época, a chegada do homem à lua em 1969, inspirou uma estética futurista que influenciou profundamente a moda. A Space Age Fashion, liderada por designers como André Courrèges e Pierre Cardin, introduziu materiais inovadores como PVC e metais, e explorou formas geométricas, linhas limpas e silhuetas estruturadas, criando um visual que evocava a era espacial e a tecnologia emergente. Além disso, a década de 60 foi um período de experimentação e ruptura com o passado. As peças desenvolvidas trazem materiais diversos que são explorados para criar texturas e tridimensionalidade, proporcionando uma nova dimensão à moda atual. Tecidos de tapeçaria associadas as técnicas artesanais permitem revisitar e reinterpretar esses elementos icônicos, mantendo viva a herança de uma década que continua a inspirar e influenciar o mundo da moda.
THAYNÁ FERRARESI
Thayná Ferraresi, 28 anos, nasceu e cresceu no
extremo leste de São Paulo, no bairro periférico de Cidade Kemel. Desde a
infância, inspirada pelas histórias de sua bisavó, uma modelista e costureira
de vestidos de noiva e batinas, desenvolveu um profundo interesse pelo universo
da moda. Formada em pedagogia, dedicou parte de sua carreira à educação, mas
paralelamente estudou no Ponto da Moda SP, até ingressar no Bacharelado em Moda
da Faculdade Santa Marcelina. Durante seus estudos e experiência no campo da
moda, Thayna enfrentou inúmeros desafios que só reforçaram sua determinação e
paixão pela área. O desejo de inovar e contribuir para a sustentabilidade se
manifestou em seu trabalho, onde ela começou a explorar o potencial dos
materiais recicláveis. Suas criações passaram a refletir não apenas sua
habilidade técnica, mas também uma profunda consciência ambiental e social,
transformando resíduos em peças únicas e significativas.
Projeto: A década de 1960 foi um período de grande fervor cultural e político no Brasil, onde a juventude buscava se diferenciar e expressar sua individualidade através da moda. A censura imposta deixou marcas profundas, ainda sentidas hoje, moldando ideias e valores. Nesse contexto, a moda tornou-se uma ferramenta não apenas de expressão artística, mas também de posicionamento político, promovendo a valorização das diferenças individuais. Essa expressão através do vestuário se consolidou como um importante instrumento de construção de identidade, contestação e resistência frente à repressão. Transcendendo o tempo e desafiando os limites da criatividade, a moda dos anos 60 utilizou códigos, estampas e símbolos ocultos para expressar insatisfação e manter vivos os sonhos de liberdade e democracia. As peças desenvolvidas reimaginam a moda dos anos 60, capturando desde os momentos de silêncio, onde as vozes eram abafadas, até o grito de liberdade celebrado com cores e nomes marcantes. Com um foco claro na sustentabilidade, essas criações utilizam matérias-primas de descarte, como materiais automotivos antigos, resultando em uma estética vibrante e ambientalmente consciente.
NICOLY MOREIRA
Nicoly Moreira de 19 anos, nasceu e cresceu em
Diadema, São Paulo. Desde pequena, foi encantada pelas histórias que sua avó
contava, sobre bailes e festas que frequentava na década de 60, e pelas roupas
elegantes que usava nessas ocasiões. Ao ver as fotos antigas e ouvir as músicas
que sua avó adorava, nasceu seu amor profundo pela moda. Além disso, o fato de
sua avó ser costureira só intensificou essa paixão, tornando a moda uma parte
essencial de sua vida. Decidiu seguir esse caminho, estudando no Ponto da Moda,
onde pôde explorar seu fascínio pela moda e durante as aulas desenvolveu suas
habilidades na costura e no desenho de croquis. Atualmente, está se dedicando a
aperfeiçoar os conhecimentos na área têxtil, sempre buscando evoluir e
aprimorar sua criatividade. Enquanto estuda e melhora suas técnicas, conserva
sua paixão pela moda vintage, trazendo essas influências para o presente em
suas criações. Atualmente, trabalha na área de marketing digital, como Social
Media onde almeja integrar cada vez mais a moda em sua profissão, produzindo
conteúdo para influenciar e conectar pessoas que também amam a moda.
Projeto: As criações propostas anseiam capturar a essência vibrante e revolucionária do final dos anos 60 no Brasil. Em um período marcado pela censura e repressão, a moda se tornou um meio poderoso de expressão e resistência. A ousadia dos ícones da moda da época se refletiu não apenas nas cores e estampas, mas também na forma como desafiaram as convenções, trazendo uma estética inovadora que incluía a influência da rica flora brasileira e a vibrante cena do Rio de Janeiro. Homenageando ícones como Maria Bethânia, Gilberto Gil, Gal Costa e Rita Lee, essas peças são um tributo ao espírito audacioso do Tropicalismo. Além de buscar inspiração nas músicas e na modelagem característica dos anos 60, também se incorporou a estética das praias de Ipanema e a revolução na moda de banho da época que foi retratado em uma das peças. O ponto de partida foi trazer à tona uma estética que une autenticidade histórica com inovação contemporânea.
VANESSA LIMA
Vanessa Lima é a filha mais velha de uma família de
três irmãos. Com um espírito dinâmico e um forte senso de responsabilidade,
sempre se destacou por seu compromisso e dedicação. Além de ser uma líder
natural dentro da família, ela busca constantemente por crescimento e
desenvolvimento em suas áreas de interesse. Desde jovem, teve um contato
especial com a arte do crochê, inspirado pela mãe que começou a aprender a
técnica. Ao se tornar mãe, sentiu a necessidade de se reinventar e encontrou no
macramê uma nova paixão. Percebeu que poderia combinar o macramê e o crochê
para desenvolver peças únicas. Recentemente, ao ingressar no curso de moda,
ampliou seus interesses para a criação de peças bem elaboradas com acabamentos
diferenciados que reflitam sua identidade.
Projeto: A moda dos anos 60 foi marcada por grandes mudanças e inovações. No início da década, o estilo era dominado por roupas mais formais e estruturadas, com influências do “New Look” de Christian Dior, que apresentava saias volumosas e cinturas marcadas. No entanto, ao longo da década, o cenário fashion evoluiu rapidamente. O modo como os estilistas se comportaram nessa década e o avanço da tecnologia trouxeram rupturas e novos paradigmas na moda. A coleção foi inspirada nos cortes elegantes de Dener Pamplona que era conhecido por suas peças únicas e icônicas. Dener foi escolhido como estilista oficial da primeira-dama da República, Maria Teresa Fontela Goulart, esposa de João Goulart. Em 1968, fundou a “Dener Difusão Industrial de Moda”, considerada a primeira grife de moda criada no Brasil. Todos os olhares se voltaram para os jovens da época, surge o prêt-à-porter, roupas de qualidade feitas em grande escala. A criação tem como base a sofisticação refletidas em peças estruturadas que trazem elegância e ao mesmo tempo demonstram parte do que se vivia na época. A ditadura é retratada de duas formas, uma mostra como a informação estava absorvida pelo medo de represália em contrapartida a outra retrata a liberdade de expressão. As pessoas estavam ansiosas por expressar sua individualidade e desafiar as normas sociais, e a moda se tornou uma ferramenta poderosa para isso. Hoje, olhamos para trás com admiração e nostalgia para os anos 60, uma época que continua a inspirar a moda contemporânea e a cultura popular.
70’
MANÔ CLEMENTE
Manoela Clemente, nascida em Ribeirão Pires, Grande
ABC, no pulsar do ano de 2001, desde tenra idade revelou um fascínio pelo encanto
dos figurinos e fantasias, germinando ali sua paixão ardente pelo vestir. Em
2022, encontrou no projeto social Ponto da Moda o solo fértil para gestar sua
primeira coleção: SANKTA INO. Atualmente na Faculdade Santa Marcelina, ela já
desdobrou em trabalhos expressivos os desígnios de seu imaginário. A poesia de
suas criações entrelaça temas de memória, feminilidade e o lúdico. Em sua mais
recente obra, teceu uma narrativa que entrelaça nossas memórias aos dentes de
leite que perdemos ao crescer, ecoando a efemeridade da infância e a constante
ânsia de revisitá-la. A sensibilidade permeia o desenvolvimento conceitual,
transfigurando-se nas escolhas minuciosas dos materiais que compõem cada obra,
onde a designer celebra os detalhes e as histórias vivas que cada elemento
conta.
Projeto: Inspiradas no nightwear setentista,
caracterizado por comprimentos longos e tecidos leves, e nos emblemáticos
maxidresses de Zuzu Angel, foram desenvolvidas duas peças em um contexto de
coleção: uma camisola e um penhoar. Essas criações não apenas evocam a estética
e a energia da década de 70, mas também incorporam uma rica paleta de cores e
padrões vibrantes, típicos dos movimentos hippie e psicodélico que definiram a
moda daquela era. O processo criativo por trás dessas peças envolveu uma
cuidadosa pesquisa e reinterpretação das influências culturais e estilísticas
da época. As cores e os "loud patterns" foram selecionados para
capturar o espírito de liberdade e experimentação que permeava a juventude dos
anos 70, enquanto a escolha de flores de pelúcia em relevo para contrastar com
a silhueta clássica serve como uma homenagem às vanguardas daquela geração.
Essa combinação de elementos resulta em uma fusão única de passado e presente,
onde o maximalismo kitsch contemporâneo encontra a elegância boêmia dos anos
70. As peças celebram a criatividade exuberante e o espírito de resistência que
marcaram tanto a moda quanto os movimentos sociais daquela época, destacando a
importância da moda como um meio de expressão individual e cultural.
MARIANA VIEIRA
Formada em Modelagem do Vestuário pela ETEC e
cursando Moda na Faculdade Santa Marcelina, atua há dois anos na equipe de
estilo na marca Mnisis, que integra o line-up da São Paulo Fashion Week (SPFW).
Como stylist e produtora, possui trabalhos divulgados pelas revistas Glamour e
L'Officiel. Junto à marca Mnisis, desenvolveu looks sob medida para artistas renomadas
como Liniker, Luísa Sonza e Gigi Grigio. Sua pesquisa está focada na
importância e relevância do toque na obra de arte, estabelecendo uma analogia
com o movimento neoconcretista, emergente no Brasil na década de 1950. A
pesquisa mergulha na análise das obras de Hélio Oiticica e Lygia Clark, ícones
do movimento artístico, promovendo uma abordagem mais subjetiva e pessoal à
criação artística, desafiando as fronteiras entre a arte e o espectador, com
uma visão voltada para a moda. Através de uma metodologia que valoriza o toque
e a criação com as mãos, a moda e a roupa são vistas como veículos de expressão
pessoal e político. A moda deve ser um meio de inclusão, sustentabilidade e
conexão emocional.
Projeto: Na década de 1970, o Brasil vivenciou transformações culturais e sociais intensas sob o regime militar, que entrelaçaram arte e identidade cultural em uma explosão de criatividade. As peças apresentadas capturam essa fusão entre a Arte Tropicalista e o Neoconcretismo, refletindo a essência vibrante e inovadora do período. Inspiradas por ícones como Gal Costa e Maria Bethânia, cujos estilos simbolizam ousadia e transformação, as criações traduzem a intensidade emocional e a experimentação visual que marcaram essas figuras emblemáticas. As peças fazem alusão a exuberância das performances e das capas de álbuns dessas artistas, destacando a influência duradoura que elas deixaram na cultura brasileira. A influência dos parangolés de Hélio Oiticica é também central. Essas "roupas" interativas, que transcenderam a simples contemplação, serviam como veículos de expressão corporal e transformação do espaço. No projeto, essa interatividade se manifesta através de elementos que convidam o espectador a explorar as peças de maneira inovadora. Tecidos fluidos, cores vibrantes e formas ousadas criam uma experiência dinâmica, refletindo a busca por liberdade e expressão que caracterizou o trabalho de Oiticica. Revisitando os anos 70, as peças estabelecem um diálogo entre o passado e o presente, oferecendo interpretações contemporâneas de influências históricas. Cada roupa celebra a interseção entre moda e arte, convidando o espectador a vivenciar a moda como uma forma de arte e manifesto cultural, demonstrando como essas influências continuam a ressoar no cenário atual.
CAMILE CHRISPIM
Camile Chrispim, nascida em 2003 em Mogi das
Cruzes, interior de São Paulo, demonstrou desde cedo um profundo interesse pela
arte, dedicando grande parte de seu tempo livre ao desenho e à pintura. Em
2022, iniciou sua jornada acadêmica em Moda na Faculdade Santa Marcelina, onde
encontrou um ambiente propício para explorar sua criatividade, desenvolvendo
trabalhos que exploram sentimentos, simbolismos e a beleza da natureza. No seu
processo criativo, Chrispim valoriza a potência das cores, detalhes e texturas,
combinando pintura com aplicações em bordados utilizando materiais diversos. A
natureza figura como sua principal fonte de inspiração, refletindo-se em suas
criações que celebram a harmonia e a estética natural. Alinhada aos temas
explorados em seus trabalhos, a designer destaca-se pelo forte uso do design de
superfície, dominando técnicas como pintura manual, bordado, aplicações e
outras formas de enriquecer suas peças com detalhes artesanais meticulosos.
Projeto: A década de 1970 foi marcada por grandes transformações sociais que ainda impactam o mundo atual. Esse período foi uma época de transição e renovação, influenciado por movimentos como o hippie, que surgiu no final dos anos 60 com suas mensagens de paz, amor livre e expressão artística. No Brasil, o Tropicalismo destacou-se por questionar normas políticas e buscar liberdade individual e autenticidade, inspirando a peça apresentada. A criação reflete essas influências culturais, incorporando elementos dos movimentos hippie e tropicalista. A peça exibe rostos icônicos como Gilberto Gil, Caetano Veloso e Os Mutantes, e faz referências ao naturalismo e ao ‘Flower Power’, com a flor e a paisagem de Woodstock representando a liberdade e a conexão com a natureza. O desenvolvimento da peça envolveu técnicas artesanais, começando com pintura para expressar cores vibrantes e paisagens. Técnicas de latch hook e aplicação de linhas criaram texturas táteis e profundidade ao design. Hoje, os ideais e estéticas dos anos 70 reaparecem em novos contextos, com um crescente interesse por práticas sustentáveis, cores vibrantes e moda retrô. A peça desenvolvida explora a individualidade e a criatividade, indo além da mera experimentação. Ela celebra a interseção entre moda e expressão cultural, destacando- se em coleções e eventos de moda contemporâneos, como o Baile da Vogue.
AMANDA MENEZES
Amanda Menezes, de 25 anos, nasceu em Diadema e
desde a infância cultivou um profundo apreço pela arte, expressando-se através
da dança e do desenho. Influenciada por sua mãe, uma costureira que aprendeu
com sua avó, Amanda desenvolveu um amor pelas técnicas manuais, incluindo o
crochê, que também foi transmitido geracionalmente. Na vida adulta, ela
mergulhou no mundo da moda, iniciando um curso na área e apaixonando-se pela
costura criativa, bordado, pintura em tecido e artesanato. Especializada em
upcycling, Amanda transforma peças descartadas, com foco no jeans, em novas
criações. Suas influências incluem a moda de rua japonesa, o rococó, animes,
filmes, Vivienne Westwood e a cultura pop. No futuro, Amanda pretende
aprofundar seus conhecimentos em costura, almejando transformar sua habilidade
em uma profissão e crescer na área.
Projeto: Os anos 70 no Brasil foram marcados por uma mistura de efervescência cultural e mudanças sociais. O país vivia sob um regime militar, mas a década foi um tempo de crescente liberdade e renovação cultural. A política ainda era um tema sensível, mas nas ruas e nas casas, o Brasil experimentava um renascimento artístico que influenciou profundamente a moda. A cultura pop estava em plena ascensão, e a música desempenhou um papel fundamental nesse cenário, Sidney Magal e Roberto Carlos se destacaram como ícones não apenas por seu talento musical, mas também por seus estilos inconfundíveis. A inspiração para a criação das peças veio diretamente desses ícones e do espírito da época. Ao criar, buscou-se refletir o glamour dos ternos desses ícones, que eram verdadeiros testemunhos do esplendor da moda dos anos 70. Os ternos brilhantes e coloridos desses artistas serviram como uma referência para as criações, trazendo um toque de extravagância e estilo. Por outro lado, as mulheres dos anos 70, especialmente a minha grande influência, a atriz Sonia Braga que se destacou por seus tecidos fluidos e seu estilo marcante. Suas roupas, muitas vezes adornadas com estampas vibrantes e tecidos leves, foram uma fonte inesgotável de inspiração para criar peças que exalam a liberdade e a fluidez da moda dos anos 70. Cada estampa é feita à mão, refletindo o trabalho manual que é tão presente na nossa cultura. O trabalho manual é uma forma de arte que celebra a individualidade e a habilidade, e eu queria garantir que cada peça da coleção refletisse isso. As estampas feitas à mão não só adicionam um toque pessoal e único às peças, mas também destacam a importância do trabalho artesanal na moda.
ALESSANDRA VIEIRA
Alessandra, 26 anos, é uma mulher apaixonada pela
moda, que encontrou nas artes manuais uma forma única de expressão. Ainda
criança, aprendeu a tricotar com sua avó paterna e, desde então, transformar
fios em peças exclusivas se tornou uma maneira de conectar suas memórias de
infância e às tradições familiares. Durante a pandemia, essa prática se
intensificou, oferecendo um refúgio criativo e reconfortante em tempos de
incerteza. Na sua perspectiva, a moda vai além de tendências; é um meio de
traduzir sua personalidade e história em cada criação. Vive com intensidade e
curiosidade, sempre explorando novas formas de aprender e crescer através do artesanato,
onde cada peça é uma obra de arte que combina o passado e o presente.
Projeto: Como um mergulho nas complexidades dos
anos 70 no Brasil, uma época arcada pelos anos de chumbo da ditadura militar,
as peças desenvolvidas são uma homenagem àqueles que, através da moda e da
arte, encontraram formas de se expressar e resistir em um período marcado pela
repressão e pela censura. As peças de alfaiataria, com cortes precisos e
silhuetas estruturadas, remetem à rigidez política da época, enquanto os tons terrosos
e estampas orgânicas simbolizam a busca dos jovens por liberdade,
característica representada pelo movimento hippie. Cada peça foi cuidadosamente
trabalhada com detalhes artesanais, resgatando técnicas tradicionais como o
crochê, forma de expressão e resistência cultural. A coleção celebra o poder do
trabalho manual, um elemento de protesto silencioso e de preservação da
identidade.
80’
SIDINEI MIRANDA
Sidinei Miranda é fotógrafo de moda, residente em
Jandira, SP. Formado em Moda pelo Ponto da Moda SP e Processos Fotográficos
pelo ETEC de Carapicuíba, atualmente se dedica ao bacharelado de Artes Visuais
na Faculdade Santa Marcelina. Tem se destacado no cenário artístico com seus
projetos de criação de imagens, direção e produção de editoriais. Ele
desempenha a parte imagética e conceitual de álbuns e LPs de cantores da zona
oeste de São Paulo, demonstrando uma habilidade única para capturar e comunicar
visões artísticas distintas. Sua trajetória inclui a atuação como professor de
fotografia no Instituto Via Cultural, onde compartilhou seu conhecimento no
Sesc 24 de Maio (2024), USE SP (2023) e Sesc Belenzinho (2022). Em 2023, foi
convidado por Mauricio Adinolfi para ser curador adjunto da exposição
'Caminhos-Labirinto' e expôs seu trabalho na Petite Galerie Experimentalé,
consolidando seu nome no circuito de exposições. Além disso, Sidinei também
dirige videoclipes e ministra workshops de direção de modelos, produção
criativa e fotografia, onde mostra como é possível construir imagens com muito
significado e pouco recurso.
Projeto: Latada explora a busca incessante pela grandiosidade, inspirando-se na exuberância e no exagero dos anos 80 através de suas silhuetas e contrastes marcantes. Esta década foi marcada por grandes mudanças econômicas e desafiou os papéis de gênero no trabalho e na expressão visual. Assim, as peças incorporam ombreiras e brilhos para transmitir imponência e destaque. Pensadas como figurinos de um show, as peças têm como musas Whitney Houston e Elza Soares, cujas performances energéticas e impactantes no palco servem como fonte de inspiração. As roupas não apenas acompanham a música, mas também contam uma história própria. As plumas nas peças são confeccionadas a partir de latas de alumínio descartadas, transformadas através de um processo manual de limpeza e recorte antes de serem aplicadas nas jaquetas, adicionando valor e singularidade ao design. Além disso, parte do trabalho utiliza TNT (tecido não tecido) em babados, oferecendo uma nova utilização para um material comumente empregado em decorações de festas. O artista propõe um novo conceito de elegância, demonstrando que ela não se baseia apenas na ostentação de materiais raros, mas na capacidade de elevar qualquer material ao estado de preciosismo através da criatividade e técnica aplicada.
WESLEY GUEDES
Formado em Ciências Náuticas pela Escola de
Formação de Oficiais da Marinha Mercante em 2003, o profissional iniciou uma
sólida carreira no segmento brasileiro de óleo e gás, trabalhando embarcado em
diversas funções. Em 2010, participou na construção de um navio sonda na Coreia
do Sul, pilotou o navio de volta ao Brasil para apresentação e testes para a
Petrobras. Em 2013, teve seu licenciamento como capitão de embarcações e, em
2015, assumiu o comando de um dos navios da frota, posição que ocupou até
encerrar sua carreira marítima em 2018. A transição para uma nova área de
atuação começou em 2016, quando se tornou sócio da Lolja - Atelier do Sicko
Ltda, atuando na expansão das marcas do grupo. Em 2021, deu um passo decisivo
ao ingressar no curso de Moda da Faculdade Santa Marcelina. Durante os estudos,
lançou a marca Fábrica 80 demonstrando notável habilidade em criação de coleções,
styling, direção, produção e gerenciamento de uma marca de moda. Atualmente,
além de continuar seus estudos ele cria e dirige coleções, desenvolvendo ainda
mais suas habilidades técnicas nas áreas de criação, produção e gestão de
marcas. Sua trajetória multifacetada exemplifica a ênfase na precisão e na
disciplina refletindo uma capacidade única de adaptação e reinvenção.
Projeto: Na década de 1980, a televisão reinava como a principal fonte de entretenimento no Brasil, com novelas, programas de auditório e atrações infantis reunindo famílias em torno da tela e gerando conversas sobre os programas do dia anterior. Este período de intensa conexão cultural foi posteriormente desafiado pela chegada da internet em 1988, que marcou o início da transição do analógico para o digital, trazendo profundas transformações sociais e comportamentais. Inspirado por esse cenário de mudança e pela riqueza icônica da década, o desenvolvimento criativo deste projeto busca capturar a nostalgia e o impacto cultural dos anos 80, enquanto reflete a evolução da sociedade com a introdução da internet. As peças reinterpretam elementos simbólicos da época, como o futebol, o estrelato das figuras televisivas e a influência do rock, utilizando materiais sustentáveis e técnicas inovadoras. O uso de jeans reaproveitado, Fio Denim e patchwork em formas geométricas, combinado com cortes assimétricos e detalhes nostálgicos, celebra a transição entre duas eras, resgatando memórias afetivas e incorporando a contemporaneidade. Essa abordagem criativa não apenas homenageia os ícones dos anos 80, mas também propõe um diálogo entre passado e presente, explorando as mudanças comportamentais provocadas pela era digital e seu impacto na moda e na cultura.
RATZ (DANI DANIEL)
Dystopic visa exaltar as vivências de corpos
marginalizados e periféricos, celebrando sua subversividade e desafiando a
visão linear do sistema em que estamos inseridos. Através de uma narrativa
anti-fashion, explora corpos pós-humanos para instigar o questionamento sobre o
ódio unidirecional em nossa sociedade, transformando-o em afeto e acolhimento.
Despertar uma rede de acolhimento trans, promovendo um sentimento de
pertencimento. Utiliza em suas peças uma armadura simbólica contra o ódio,
desafiando os padrões tradicionais de beleza ao explorar o surrealismo como
referencial estético. Dystopic nasceu da transformação do nada em tudo,
utilizando materiais recolhidos do lixo, descartados irregularmente por ideais
consumistas que impactam o meio ambiente. Inspirado pela vida na metrópole de
São Paulo, busca perspectivas na moda, explorando elementos urbanos como o pixo
para desafiar a cisnormatividade e celebrar a trans- humanidade. Reflete os
fragmentos de espelhos quebrados de uma cidade imersa no caos distópico,
permitindo-nos ser e sentir, e mantendo a estética core de Dystopic.
Projeto: A presente pesquisa examina a moda e o comportamento relacionados à androginia no contexto dos anos 80, explorando o Glam Rock, os Clubbers e a subversividade dos Cybermanos. Esses três estilos, com seu futurismo e extravagância, serviram como uma provocação à estética convencional da época e tiveram um impacto profundo na moda e na visão de mundo que conhecemos. No Brasil, a androginia é expressa através de artistas como Ney Matogrosso, Edy Star e o grupo teatral Dzi Croquettes. Esses artistas desafiaram as normas da ditadura militar com performances viscerais e figurinos extravagantes, quebrando as barreiras entre o masculino e o feminino. O Glam Rock, com sua identidade rebelde, usou o corpo e a androginia para subverter ideias estabelecidas sobre gênero e moda. Em São Paulo, o movimento ganhou força, com gays e drags invadindo as ruas como símbolos de minorias e expressividade. A moda tornou-se uma forma de comunicação e liberdade, com looks e performances extravagantes em clubes noturnos, marcando o surgimento dos Clubbers no Brasil. O visual Club Kid, caracterizado por androginia e exagero, incluía saltos, plataformas, roupas de vinil e muita teatralidade. A partir desse movimento surgiu a ramificação dos Cybermanos, que, vindos das periferias, trouxeram um visual mais pesado e futurista. Com piercings, roupas de vinil, bermudas, bonés de couro, sneakers e acessórios camuflados, os Cybermanos representavam uma versão mais sombria e esquálida dos Clubbers, antecipando o início do cyberpunk. Ser um Cybermano era uma forma de infundir cor em um cotidiano cinzento, muitas vezes custando todo o salário para se destacar nas pistas de dança como um refúgio lisérgico. Essas subculturas e contraculturas se encontram na liberdade de criar, imaginar e vestir o corpo como desejar.
PEDRO STORARO
Pedro Storaro é natural da capital de São Paulo.
Cresceu em um ambiente voltado para a arte e a diversão, onde sua curiosidade
infantil o transformou em um entusiasta do funcionamento das coisas.
Influenciado por um pai criativo com hobbies variados, Pedro desenvolveu um
vasto repertório artístico. Após anos de teatro, descobriu uma afinidade
especial com a moda e o figurino. Na Faculdade Santa Marcelina, aprofundou seus
conhecimentos nesse novo e fascinante universo. Com interesse nas áreas de
criação, desenvolvimento de produto, estamparia e figurino, Pedro está
constantemente em busca de novos conhecimentos e desafios para aprimorar suas
habilidades e ampliar sua visão de mundo. Em 2023, trabalhou na empresa
Alexandre Pavão no desenvolvimento de coleções. Hoje trabalha como designer de
estamparia na Farm Rio, contribuindo para o mercado da moda nacional e global.
Seu trabalho envolve a criação de elementos, cores e a finalização de peças,
com o objetivo de levar um pouco da cultura brasileira para os lares de todos.
Seu objetivo é continuar a se desenvolver profissionalmente e se envolver em
projetos que expressem sua paixão pela moda e pela arte.
Projeto: “Bem-me-quer, mal-me-quer” (Rita Lee, 1980) - “Luzes da Pista” mergulha na essência vibrante dos anos 80, destacando a exuberância e feminilidade dessa década. Inspirado pelas memórias da sua mãe, que dominava as pistas de dança ao som de Rita Lee, o estilista Pedro Storaro cria peças exuberantes, bufantes e de cores intensas, que brilham no salão e celebram a alegria de viver e a liberdade. Essas criações homenageiam a mulher confiante e ousada, que encontra na moda uma forma de expressão e empoderamento, refletindo as noites inesquecíveis daquela época. A modelagem balonê, com sua volumetria marcante, ressurge como um dos estilos icônicos da década, com barbatanas que ressaltam a sensualidade do corpo. Apesar das fortes influências retrô, cada peça é cuidadosamente adaptada para o contexto contemporâneo, equilibrando uma homenagem ao passado com uma afirmação da moda atual. Os carimbos de borracha usados nas peças remetem à era dos padrões geométricos e da cultura pop/rock, quando logotipos e marcas dominavam o cenário. Essas estampas únicas combinam formas típicas da época com cores vibrantes, criando texturas e profundidade no tecido, transformando superfícies simples em verdadeiras obras de arte. Cada carimbada adiciona um toque único, capturando a essência despreocupada dos passos na pista de dança. Pedro Storaro convida todos a reviver a magia dos anos 80 através da moda nacional, oferecendo um olhar poderoso e autêntico. Suas peças não apenas homenageiam uma década inesquecível, mas também celebram a mulher que viveu intensamente, mergulhando em um universo de cores, formas e histórias que continuam a encantar e inspirar.
ARAFA ARANTES
Arafa Arantes, de 22 anos, natural do interior de
São Paulo e graduada pela Faculdade Santa Marcelina, iniciou sua jornada profissional
como assistente de Mateus Cardoso, onde encontrou sua paixão pela alfaiataria.
Esse fascínio inicial a impulsionou a aprofundar seus conhecimentos através de
diversos cursos especializados. Ao longo de sua formação, Arafa atuou como
stylist, assinando desfiles de Guilherme Dutra. Atualmente, desempenha o papel
de assistente de styling de Leandro Porto. A pesquisa de Arafa está
intrinsecamente ligada à filosofia e à psicanálise do pertencimento e do
não-pertencimento por meio da indumentária. Com o propósito constante de
enaltecer e adornar com preciosismo a existência de corpos travestis, foi
criado o conceito da Alfaiataria Travesti. Este projeto investiga as
interseções entre o poder transformador da roupa como mecanismo de
sobrevivência e sua função como armadura social, buscando nas manualidades do
interior paulista formas de aprimorar suas profundas congruências e
significados.
Projeto: “Estrangeira, espécie de espantalho feito com materiais pegos ao acaso, reunião barroca de antivalores, como se tratasse simplesmente de atemorizar-se a si mesmo. Restaria evidentemente entender melhor o que torna possível, talvez mesmo necessária, a construção de simulacros que apresentam um caráter tão grosseiramente exagerado” (LANDOWSKI, 2012). - A análise da década de 1980 e da vivência travesti revela um percurso árduo, marcado pela estranheza e pela retaliação. Em um resquício de ideias ditatoriais, a Operação Tarântula intensificou a perseguição policial contra travestis, transformando a marginalização em um processo sistemático de “higienização” das ruas. Nesse contexto, corpos não normativos eram tratados como estrangeiros em seu próprio território, reforçando a sensação de alienação. A peça em questão reflete essas complexas dinâmicas ao combinar a filosofia de Eric Landowski com as características da década. A escolha de tecidos e a mistura de materiais evocam os elementos marcantes dos anos 80: brilho, exagero e excessos típicos das pistas de dança. O blazer, resultado de um estudo da alfaiataria travesti, emerge como uma construção quase armorial, transformando-se em uma armadura social. Quanto mais ornamentada e elaborada a aparência, mais se distancia o outro, criando uma sensação de proteção. Em meio a uma época de intensa marginalização, a peça busca resgatar o valor do preciosismo. Cravejada de bordados e texturas brilhantes, reluzente como ouro, a roupa torna visível a travesti em sua forma exagerada e protegida por um preciosismo que, mesmo em seu caráter estrangeiro, afirma sua identidade e resiliência.
90’
RUBENZ CARVALHO
Desde a infância, o interesse pela arte foi
profundamente influenciado pelas horas dedicadas que sua mãe passava bordando
até altas horas da madrugada, deixando miçangas, vidrilhos, agulhas e linhas
espalhadas por toda a casa. Essa visão meticulosa e artesanal deixou uma marca
permanente, despertando a vontade de explorar a arte de maneira acessível e
tangível. A moda se revelou o meio ideal para realizar esse desejo, oferecendo
um campo vasto para expressão criativa e técnica. Ao longo dos anos,
percebeu-se que a trajetória pessoal e profissional estava naturalmente
alinhada com essa paixão. A dedicação aos trabalhos de construção em
alfaiataria e aos saberes manuais, como o bordado, tornou-se central na busca
por criar objetos-arte que transcendem a simples funcionalidade, revestindo o
corpo com peças que contam histórias e carregam significados profundos.
Atualmente, o foco está na pesquisa contínua e na evolução dessas técnicas,
explorando novas possibilidades de combinação entre materiais tradicionais e
contemporâneos.
Projeto: Os anos 1990 marcaram o fim do século XX e o início de uma nova era com uma mentalidade voltada para o futuro. Dois eventos históricos significativos são destacados para ilustrar a profundidade das transformações dessa década e seu impacto na realidade nacional. Em 1º de julho de 1994, o Plano Real entrou em circulação no Brasil, trazendo uma nova moeda que estabilizou a economia e controlou a inflação crônica, permitindo o crescimento nacional. A obra exposta captura a essência material desse plano econômico, incorporando o formato das cédulas no design do vestido. A Efígie da República, símbolo dos valores republicanos e da liberdade, também é integrada ao modelo. O vestido, com seu formato "tomara que caia" e ajuste justo no busto e cintura, remete às roupas dos anos 90, ao mesmo tempo que faz um trocadilho com a inflação elevada da época. Em 17 de abril de 1996, cerca de 1.500 pessoas acampadas na Curva do S, em Eldorado dos Carajás, no sudeste do Pará, protestavam pela desapropriação da Fazenda Macaxeira, ocupada por 3.500 famílias.
Créditos: Valentina Dewers | Agência Taga
* Este conteúdo foi enviado pela assessoria de imprensa
Comentários
Postar um comentário