"Meio do Céu", de Ubiratan Muarrek, traz embate entre Brasil arcaico e moderno numa Londres caótica *
Livro é o terceiro do autor, que foi semifinalista do Prêmio Oceanos em 2017
O
escritor paulista Ubiratan Muarrek lança em livro a peça tragicômica Meio do Céu,
pela Assírio & Alvim. Após lançamento em São Paulo, estão marcadas noites
de autógrafos no Rio de Janeiro (em 8 de novembro, na Janela Livraria do Jardim
Botânico) e em Lisboa (no dia 26 do mesmo mês, na Livraria da Travessa
portuguesa).
"Escrevi
uma peça de teatro que talvez nunca seja encenada. Esse é o seu aspecto
trágico. E cômico. O projeto em si é tragicômico, como a forma que explorei no
texto. Eu entendo o drama como um projeto também literário",
afirma o autor.
Muarrek
desvela os dilemas contemporâneos entre o Brasil arcaico e o Brasil moderno
nesta obra, que chega às prateleiras depois
de Corrida
do Membro (Objetiva, 2007) e Um Nazista em Copacabana (Rocco,
2016), semifinalista do Prêmio Oceanos. Tudo começa com o relato de um dia na
vida de uma família de pernambucanos na Inglaterra, dentro do espírito do
teatro clássico de Molière - castigat ridendo mores, isto é, castiga os costumes
rindo, com a roupagem do absurdo de Kafka e Samuel Beckett.
O
cenário é uma Londres caótica, no dia 25 de julho de 2000, quando o então
célebre avião supersônico de passageiros Concorde, voo 4590, explodiu no ar
matando mais de 100 passageiros. Enquanto isso, duas amigas brasileiras,
Sofitel e Greta, uma negra e uma branca, ambas vindas de um Recife
assombrado pela escravidão e com um passado em comum, se
encontram num parque na metrópole inglesa e travam um
embate sobre acontecimentos que marcaram as suas vidas.
A
partir daí, Muarrek constrói uma “cacofonia de palavras”, na definição do
dramaturgo Léo Lama, que assina o texto de apresentação da obra. Influenciado
por Harold Pinter e James Baldwin, com referências ao Movimento Armorial de
Ariano Suassuna, Meio do Céu sintetiza e prenuncia, com altas
doses de sátira, a crise social, política e econômica que se instalou no mundo
das duas primeiras décadas do século 21.
A
foto de capa inspirou e acompanhou toda a escrita do livro. De autoria do
fotógrafo alemão Wolfgang Tillmans, faz parte de uma série com 62 fotos
coloridas do avião Concorde, em Londres - seja decolando, em pleno vôo, já
pousando e, às vezes, apenas a sua silhueta como se fosse um pássaro metálico.
Racismo
à brasileira permeia a história
"Nas
raízes da comédia há uma capacidade de perigo muito mais ameaçadora do que
qualquer sentimento gerado pela tragédia. Tempos ameaçadores, arte ameaçadora –
ao invés de arte ameaçada. Talvez este seja o sentido último da escolha
tragicômica, entre as opções literárias, nesse já tão conturbado século 21",
analisa Ubiratan Muarrek.
A carpintaria literária de Muarrek parte de um evento marcante literalmente no
céu para exibir a discórdia racial que permeia a sociedade
brasileira. Ela cria também o abismo entre o Brasil arcaico e o Brasil
moderno, sobre o qual o político e diplomata recifense
Joaquim Nabuco (1849-1910) já dizia querer implantar uma “ponte de ouro”.
O Brasil de Meio
do Céu, exposto pelo contraste de uma comunidade de brasileiros
vivendo no exterior, expõe uma sociedade saturada de tensões e do desejo de
vingança. Ainda assim, mostra que, apesar de todos os acidentes do passado, ainda é possível
encontrar a concórdia no futuro.
“A
realidade não é absurda”
"Em
Meio do Céu os outros são criados ininterruptamente através de nomeações que
obscurecem, traduzem e confundem. É preciso que se diga que a realidade não é
absurda; contrassenso é achar que ela existe como a percebermos. Podemos dizer
que o desconcerto dramático que Meio do Céu nos causa vem evidenciar que o que
chamamos de realidade só atinge o ápice de sua potência quando se entrega ao
Absurdo" (Léo Lama, dramaturgo)
Quem
é Ubiratan Muarrek
Formado
em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduado em Mídia e
Comunicação pela London School of Economics, na Inglaterra, e em dramaturgia
pelo Célia Helena (São Paulo), Ubiratan Muarrek é escritor, jornalista,
produtor executivo de cinema e roteirista em desenvolvimento, já envolvido com
filmes e documentários.
Na sua carreira literária, Muareek tornou-se conhecido pelos elementos de drama
e tragicomédia, presentes em seu romance de estreia Corrida do
Membro (Objetiva, 2007), e, novamente, na obra Um Nazista em
Copacabana (Rocco, 2016), que esteve entre os semifinalistas
do Prêmio Oceanos de 2017.
Em Meio do Céu, o autor apresenta em livro um texto teatral, que serve tanto para ser lido como um breve romance ou para ser encenado. O objetivo é o mesmo de toda a sua obra ficcional: dissecar as mazelas da sociedade contemporânea, na qual a tragicomédia assume o seu papel de crítica mordaz de uma bizarra realidade.
Meio
do Céu
Editora Assírio e Alvim
Escrito por Ubiratan Muarrek
210 páginas
Preço R$ 85,00
Créditos: Marielle Blaskievicz | Estilo
Editorial Comunicação
* Este conteúdo foi enviado pela assessoria de imprensa
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