A Bailarina Fantasma parte da escultura icônica de Degas para falar do apagamento da visibilidade de uma bailarina clássica negra *
Foto meramente ilustrativa. |
Na peça-instalação, a bailarina brasileira Verônica Santos trava um diálogo íntimo com a dramaturga, Dione Carlos. Diante do público, elas elaboram um plano de vingança.
Com dramaturgia de Dione Carlos, encenação de Wagner
Antônio e idealização e produção de Fernando Gimenes, o
espetáculo revela os bastidores do universo da dança clássica e da escultura
que virou um marco na história da arte moderna.
Partindo da polêmica escultura ‘A Bailarina de 14 anos’, do
pintor e escultor francês Edgar Degas (1834-1917), e das memórias da bailarina
brasileira Verônica Santos, Dione Carlos criou a
dramaturgia da peça-instalação "A Bailarina Fantasma".
A temporada de estreia acontece no Espaço Cênico Ademar Guerra, localizado no
porão do CCSP – Centro Cultural São Paulo, entre os dias 17
e 31 de outubro de 2024, com sessões às quartas e quintas, às 20h30,
e, de sexta a domingo, às 18h e às 20h30.
A
peça destaca as violências físicas e simbólicas sofridas por Verônica em seu
processo de formação em dança, bem como as tentativas de apagamento de sua
visibilidade ao longo de sua carreira como bailarina clássica negra. A partir
de um pensamento curatorial articulado por Fernando Gimenes,
idealizador do projeto, foram reunidos profissionais com fortes traços autorais
como Dione Carlos na dramaturgia, Wagner Antônio na
encenação, Natália Nery na trilha sonora original executada ao
vivo, além de Verônica Santos. O espetáculo revela, em uma
peça-instalação, os bastidores do universo da dança clássica e da escultura que
virou um marco na história da arte moderna.
“Com
a mediação artística-psicanalítica de Rafael Costa no
levantamento da minha biografia e de materiais para a composição da nossa
dramaturgia, acessei muitas das minhas memórias. Voltamos para a minha infância
e avançamos até o momento presente em que me encontro na melhor forma de me
expressar”, conta Verônica.
As
esculturas polêmicas de Degas
Degas tinha um grande interesse por bailarinas, representadas em
mais da metade de suas duas mil obras, principalmente retratando membros do
corpo de balé da Ópera de Paris. Ele pintava cenas no palco, ensaios e momentos
de descanso. Na Ópera de Paris, Degas conheceu Marie van Goethem, uma estudante
de balé de 13 anos, que serviu de modelo para a escultura "A Bailarina de
14 Anos", a única exposta por Degas em vida, em 1881. A obra recebeu
críticas negativas, com o público associando sua aparência a algo animalesco e
estranho, semelhante a um boneco de cera.
Degas
inovou ao misturar materiais como cera, cabelo real e tecidos, mostrando uma
visão artística à frente de seu tempo. A escultura, considerada uma de suas
mais famosas e influentes, teve 28 cópias em bronze feitas a partir do molde
original e estão em importantes museus ao redor do mundo, como o Museu d'Orsay,
em Paris, e o MASP, em São Paulo.
Sobre
as réplicas, como elas são feitas em bronze, um material que escurece quando
exposto à ação do tempo, muitas pessoas pensam que a bailarina retratada era
uma jovem negra. O que ao longo dos anos gerou diversos atos de cunho racista
sobre a obra, chegando a nomearem como ‘A Pequena Macaca de 14 anos’,
conta Fernando Gimenes, idealizador do projeto.
A
perspectiva política, social e crítica na obra
Se
o meio do balé é cristalizado por imagens doces como a da escultura de
Degas, a trajetória de Verônica foi marcada pela busca
incessante por encontrar uma linguagem que a representasse. “Eu venho de uma
periferia, de uma família preta, pobre e que tem todas as suas histórias dentro
dessa subjetividade e dessa intersecção que envolve a nossa cor. Inclusive, fui
uma criança que por anos frequentou as salas e os espaços de balé durante
quatro, cinco horas por dia, porque meus pais entendiam que essa talvez fosse
uma possibilidade de educação e de sociabilização”, argumenta. Entretanto, sua
formação foi desafiadora. “Eu aprendi duas técnicas específicas, uma francesa e
uma russa, que nada têm a ver com um corpo negro ou tipicamente brasileiro.
Depois, fui conhecer o trabalho das norte-americanas, incluindo o sapateado.
Mas eu sempre sentia que aqueles ambientes não me queriam”, completa.
Para Dione
Carlos, dramaturga de A Bailarina Fantasma, o espetáculo é um
ritual de libertação do corpo. “Queremos mostrar uma mulher renascendo. E como
tenho investigado o poder do erotismo, principalmente quando falamos em corpos
subalternizados, tenho construído uma espécie de quilombo-erótico-místico nos meus
projetos”, explica a dramaturga. Verônica e Dione dialogam e planejam uma
vingança, mas contra o colonialismo, contra o sistema, contra o racismo. É um
plano de vingança subjetivo e poético, compartilhado com a plateia.
Sobre
a encenação
E
o público acompanhará todo esse processo sob uma perspectiva única e autônoma.
Não haverá um local pré-determinado para se sentar. A intérprete e a equipe
técnica performativa acompanharão o público por um ambiente imersivo instalado
no porão do CCSP. Enquanto as pessoas observam toda a ação, seus sentidos
também estarão sendo esculpidos ou lapidados.
Quem
cria a atmosfera sonora é a pianista Natália Nery. Tocando um piano
elétrico e inspirada pelo estilo experimental de John Cage, ela executa
composições originais e canções que têm referências em obras clássicas como “O
Lago dos Cisnes” e inspirações em canções icônicas de Nina Simone. Ao mesmo
tempo, a voz de Dione ecoa pelo espaço cênico, tendo as peças radiofônicas como
mais uma inspiração para a criação do espetáculo.
“Este
trabalho é uma desobediência poética, uma insurgência. Eu ficava pensando que o
verbo se fez carne e rezava para que a carne se fizesse verbo e fosse dançar.
Esse verbo deveria nos recordar de que fomos feitos para o movimento. Quer
dizer, para mim, essa bailarina fantasma também é essa memória corporal da
primeira diáspora da humanidade, que foi a saída de África. Com esse espetáculo
eu gostaria de resgatar essa nossa vocação para a dança”, completa Dione.
Sinopse
A peça-instalação foi criada a partir da icônica e polêmica escultura francesa
‘A Bailarina de 14 anos’, do escultor Edgar Degas, em fricção com os relatos
autobiográficos da bailarina brasileira Verônica Santos. Com dramaturgia
inédita de Dione Carlos, o espetáculo revela um corpo fraturado por violências
físicas e simbólicas e também por tentativas de apagamento da visibilidade de
uma bailarina clássica negra. A obra propõe uma espacialidade imersiva onde a
performer e a dramaturga ritualizam um diálogo íntimo e, diante do público,
elaboram um plano de vingança.
FICHA
TÉCNICA
Idealização
e Direção de Produção: Fernando Gimenes | Produção: Plataforma –
Estúdio de Produção Cultural | Atuação: Verônica Santos | Dramaturgia:
Dione Carlos | Pianista: Natália Nery | Encenação e instalação
cênica: Wagner Antônio | Diretora Assistente: Isabel
Wolfenson | Mediação Artística-Psicanalítica: Rafael Costa
| Equipe técnica performativa: Laysla Loysle, Ijur Sanso,
Lucas JP Santos, Camila Refinetti, Denis Kageyama, Guilherme Zomer, Marina Meyer
| Acessibilidade: Sina – Acessibilidade e Produção | Designer
Gráfico: Murilo Thaveira | Fotos: Helton Nóbrega e Noelia
Nájera | Redes Sociais: Jorge Ferreira | Fisioterapeuta:
Claudia Carahyba | Professora de balé: Aurea Ferreira | Assistente
de Produção: Bruno Ribeiro | Técnico de Gravação em Áudio: Fabrício
Zava | Assessoria de Imprensa: Canal Aberto - Márcia Marques,
Carol Zeferino e Daniele Valério
SERVIÇO
A
Bailarina Fantasma
Data: 17 a 31 de outubro de 2024, às quartas e quintas, às 20h30,
e, de sexta a domingo, às 18h e às 20h30.
No dia 31 também haverá sessão dupla às 18h e às 20h30.
Local: CCSP - Centro Cultural São Paulo | Espaço Cênico Ademar
Guerra | Rua Vergueiro, 1000 – Paraíso – São Paulo – SP
Ingresso: Gratuito
Duração: 75 minutos
Classificação: 14 anos
Acessibilidade: Todas as sessões contarão com acessibilidade em
Libras – Língua Brasileira de Sinais.
Créditos: Daniele Valério |
Canal Aberto
* Este conteúdo foi enviado pela assessoria de imprensa
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