USP inaugura Espaço Meteorológico em fevereiro e transforma mais de um século de dados em experiência aberta ao público *

 

A Estação Meteorológica Professor Paulo Marques do Santos do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (EM-IAG) e o Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade de São Paulo (CienTec-USP) inauguram, em 7 de fevereiro de 2026, um espaço permanente dedicado à história, à ciência e ao cotidiano da meteorologia. Instalado no Hall do prédio principal do CienTec o Espaço Meteorológico reunirá uma linha do tempo inédita da observação do tempo em São Paulo, séries históricas de temperatura e chuva, instrumentos originais e dados em tempo real, conectando passado, presente e futuro da ciência do clima

A Estação Meteorológica Professor Paulo Marques do Santos do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (EM-IAG) e o Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade de São Paulo (CienTec-USP) inauguram no sábado, dia 7 de fevereiro de 2026, às 10h, no Hall de entrada de seu prédio principal, o Espaço Meteorológico, uma área expositiva permanente que apresentará mais de um século de observações do tempo e do clima em São Paulo. Idealizado pela equipe da EM-IAG, o espaço combina uma linha do tempo histórica com séries científicas de temperatura e precipitação, instrumentos meteorológicos e observações meteorológicas exibidas em tempo real para explicar, de forma acessível, como a Meteorologia observa o tempo, constrói previsões e ajuda a compreender as mudanças climáticas.

O coração do Espaço Meteorológico é um grande painel que combina história e ciência. Na parte superior, uma série temporal da temperatura média anual mostra, por meio de cores, quando os valores ficaram acima ou abaixo da média histórica. Tons de azul indicam anos mais frios; tons de vermelho, anos mais quentes. “Ao longo dos últimos 20 ou 30 anos, foi possível observar um aquecimento, ou seja, a temperatura na nossa região aumentou”, afirma Prof. Morales. Segundo ele, o painel permite visualizar esse padrão de forma direta, sem necessidade de conhecimentos técnicos prévios

Abaixo, um segundo gráfico apresenta a chuva anual em mm  e as cores representam a porcentagem em relação à média histórica. A opção por percentuais, explica o professor, torna a informação mais intuitiva para o público geral. “Chuva em milímetros é mais difícil de entender. Em porcentagem, a pessoa consegue ver se choveu 10% a mais ou a menos, por exemplo”, diz

Os dados indicam que, nas últimas 9 décadas, a precipitação anual na região aumentou cerca de 400 milímetros, o que representa aproximadamente 60% acima da média em determinados períodos. “O aumento da temperatura e o aumento da chuva aparecem quase em fase”, observa Morales. “As leis da física mostram que quanto mais quente a atmosfera, maior a capacidade de reter vapor de água, o que pode se converter em mais chuva”.

Ao entrar no CienTec-USP, o visitante passará a ter contato direto com uma narrativa que começa no final do século XIX e atravessa a formação da meteorologia acadêmica no Brasil até chegar às discussões mais atuais sobre clima e aquecimento observado nas últimas décadas. O Espaço Meteorológico nasce com a vocação educativa e científica de mostrar que a previsão do tempo consultada diariamente no celular depende de uma infraestrutura de medições, padronização e continuidade que atravessa gerações.

De acordo com o professor Carlos Augusto Morales Rodriguez, do IAG-USP, a proposta foi construir um painel que resgatasse a história sem perder o rigor científico. “A ideia foi mostrar a cronologia da estação meteorológica, quando ela foi instalada, como começou, e ir remontando desde os primórdios, com fotos e datas, tudo associado à estação meteorológica e a fatos importantes da meteorologia da USP”, explica o professor

Uma linha do tempo que acompanha a cidade
A linha do tempo apresentada no Espaço Meteorológico percorre momentos-chave da observação do tempo em São Paulo e no Brasil. No final do século XIX, em 1888, ocorre a primeira instalação conhecida de uma estação meteorológica na cidade, no Jardim da Luz (atualmente Parque da Luz), em um período em que a capital ainda se estruturava como centro urbano.

Mais tarde em 1895 a estação meteorológica foi transferida para a Praça da República. Já no início do século XX, em 1912, a estação começa a funcionar na Avenida Paulista (atualmente MASP), então um dos eixos de expansão da cidade e passa a integrar o Observatório de São Paulo, marco institucional da observação astronômica e meteorológica. Esse movimento reflete o crescimento urbano e a necessidade de acompanhar o comportamento atmosférico em uma cidade em rápida transformação.

Em Novembro de 1932, a estação meteorológica é transferida para o Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI), área que hoje abriga o CienTec-USP. A mudança acompanha tanto a expansão da cidade quanto a necessidade de um local mais adequado para medições sistemáticas e de longo prazo, longe de interferências diretas do adensamento urbano.

Poucos anos depois, em 1941, nasce oficialmente o IAG, que mais tarde, 1946, se tornaria parte da Universidade de São Paulo, estruturando de forma permanente a pesquisa em astronomia, geofísica e meteorologia (ciências atmosféricas).

Continuidade, padrão e ciência
A partir da década de 1950, a Estação passa a realizar observações horárias, um avanço fundamental para a qualidade e a confiabilidade dos dados. Em 1957, os instrumentos meteorológicos são atualizados, mantendo, porém, o mesmo princípio tecnológico. Essa decisão, segundo Morales, é central para a ciência do clima. “Desde a década de 1930, o tipo de instrumento é basicamente o mesmo. A gente troca peças, atualiza versões, mas mantém o princípio de funcionamento para garantir que a informação não mude por causa da tecnologia”, afirma Morales. Para ele, a padronização é o que permite comparar dados ao longo de décadas, sem introduzir erros artificiais.

Em 1998, a EM-IAG foi incorporada à rede de observações da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e atualmente faz parte de um seleto grupo de estações com séries históricas longas e confiáveis.

Formação de meteorologistas e avanço acadêmico
O painel também destaca o papel da USP na formação de profissionais da área. Em 1975, é criado o Departamento de Meteorologia e o Programa de Pós-Graduação em Meteorologia. Dois anos depois, em 1977, tem início o curso de graduação em Meteorologia, consolidando a universidade como referência nacional na área. Na década de 1990, os números já indicavam esse impacto. Até 1990, haviam sido formados 53 meteorologistas e 23 pós-graduados, entre mestres e doutores e, atualmente, são 352 meteorologistas, 384 mestres e 179 doutores. Esses profissionais passaram a atuar em centros de pesquisa, serviços meteorológicos, universidades e órgãos públicos, ampliando o alcance da ciência meteorológica no país.

Do papel ao digital: dados em tempo real
No século XXI, a estação entra definitivamente na era digital. Em 2007, ao completar 75 anos de observações contínuas, é instalada a Estação Meteorológica Automática (EMA), que passa a registrar dados com maior resolução temporal, sem romper a compatibilidade com a série histórica tradicional.

Mais recentemente, em 2023, a estação recebeu o nome de Estação Meteorológica Prof. Paulo Marques dos Santos, homenagem ao meteorologista que atuou por cerca de 50 anos na estação, até sua aposentadoria, em 1997. A renomeação reforça o caráter humano e institucional de uma história construída por gerações de pesquisadores e técnicos,  além da criação do departamento de meteorologia e do curso de graduação em meteorologia.

Clima, modelos e mudanças globais
Sem entrar em simplificações, o Espaço Meteorológico da USP também estabelece conexões com o debate global sobre clima. Morales ressalta que as séries históricas da estação do IAG ajudam a validar modelos climáticos utilizados por organismos internacionais. “Essa é uma das poucas estações do mundo com mais de 90 anos de dados contínuos, capazes de confirmar o que os modelos do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) estão projetando”, afirma.

O professor faz questão de diferenciar conceitos. “Não vou entrar no mérito se é mudança climática ou efeito antrópico. Existem os dois. O que os dados mostram é que houve aumento de temperatura e de chuva na região. Nosso objetivo é apresentar evidências e estimular a reflexão informada”, reforça.

Instrumentos que contam histórias
Além do painel, o visitante encontrará uma prateleira com instrumentos meteorológicos, incluindo equipamentos históricos e versões mais recentes. Morales antecipa que termômetros, barômetros, pluviômetros e anemômetros vão ajudar a contar como as medições são feitas e por que a padronização é tão importante. “A mecânica em si é a mesma. Nós vamos trocando cilindros, penas, peças, mas o princípio permanece. O contraste entre instrumentos manuais e automáticos ajuda a entender como a tecnologia evoluiu sem romper a continuidade das séries”, acrescenta Morales.

 Do dado à previsão do tempo
Um dos objetivos centrais do Espaço Meteorológico é aproximar o público do processo que transforma medições em previsões. Um monitor de 42 polegadas exibirá dados em tempo real, mostrando as condições medidas pela estação e por outros instrumentos da USP. “A pessoa que olhar a previsão no celular vai poder entender como a meteorologia funciona, quais instrumentos são usados para medir temperatura, pressão, umidade e vento e como essas informações são enviadas para os centros de previsão”, diz Morales. Para ele, compreender esse processo ajuda a valorizar o trabalho científico por trás de algo aparentemente simples

A inspiração vinda das árvores
Curiosamente, a inspiração para o painel não veio diretamente da meteorologia. Morales conta que a ideia surgiu após uma visita ao Museu de História Natural da Universidade de Oklahoma, nos Estados Unidos. “Eles mostravam a história a partir do tronco de uma árvore Sequóia de 1300 anos. Aquilo me marcou”, relata. A partir dessa experiência, Morales decidiu unir cronologia e dados científicos. “Eu pensei: vou mostrar a história, mas ao mesmo tempo os dados. Resgatar o passado e trazer ciência”, afirma

Um espaço aberto e permanente
Com cerca de 5 por 5 metros, o Espaço Meteorológico ocupará o hall de entrada do prédio principal do CienTec-USP, onde funciona a estação meteorológica, localizada no terraço do segundo andar. O local foi pensado para ser aberto durante todo o horário de funcionamento do parque, permitindo visitas espontâneas, além de atividades guiadas.

Na inauguração, o espaço deve receber grupos pequenos, mas a proposta é que ele se torne um ponto permanente de visitação e educação científica. “Qualquer pessoa que entrar no parque vai poder ver o painel e os instrumentos”, destaca Morales

Ao reunir história, dados e instrumentos, o Espaço Meteorológico traduz a meteorologia como ciência aplicada ao cotidiano. Morales conclui que a proposta é mostrar que o clima de São Paulo não é apenas uma sensação subjetiva, mas o resultado de medições contínuas, análises cuidadosas e séries históricas que atravessam gerações.

Sobre o IAG/USP - O Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo é um dos principais polos de pesquisa do Brasil nas áreas de Ciências Exatas e da Terra. A missão é contribuir para o desenvolvimento do país, promovendo o ensino, a pesquisa e a difusão de conhecimentos sobre as ciências da Terra e do Universo e aspirando reconhecimento e liderança pela qualidade dos profissionais formados e pelo impacto da atuação científica e acadêmica. Na graduação, o IAG recebe em seus três cursos 80 novos alunos todos os anos. Já são mais de 700 profissionais formados pelo IAG, entre geofísicos, meteorologistas e astrônomos. Os quatro programas de pós-graduação do IAG já formaram mais de 870 mestres e 450 doutores desde a década de 1970. O corpo docente também tem posição de destaque em grandes colaborações científicas nacionais e internacionais.

Créditos: Moura Leite Netto | Sensu Comunicação

* Este conteúdo foi enviado pela assessoria de imprensa

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