RPM: 40 anos de “Revoluções Por Minuto”

 

"Revoluções Por Minuto", do RPM, que completa 40 anos de lançamento em 2025.

Aproveitando que, mais tarde, iremos acompanhar o show de Paulo Ricardo na Vibra São Paulo nesta sexta-feira (5), destacamos que, no último mês de maio, o trabalho de estreia do RPM, o clássico “Revoluções Por Minuto“, completou 40 anos de lançamento. Gravado em março de 1985 nos Estúdios Transamérica, em São Paulo (exceto “Louras Geladas” e “Revoluções Por Minuto” que saíram em um EP em 1984), o ‘debut’ foi produzido por Luiz Carlos Maluly e lançado pela Epic.


Bom, como todo mundo deve saber, o RPM surgiu no início da década de 1980 quando Paulo Ricardo conheceu Luiz Schiavon e, dessa amizade, nasceu a vontade de montarem uma banda. Porém, como Paulo Ricardo era correspondente de uma revista de música da época, ele precisou viajar para Londres para escrever sobre as novidades londrinas e, com isso, os dois se correspondiam por cartas para que, quando Paulo retornasse para o Brasil, seguirem com o projeto de montar a banda.


Esse período em que ficou na Inglaterra foi muito importante para Paulo Ricardo, pois, ele via acontecer a cena inglesa que estava sendo tomada pela New Wave, o New Romantic e o Synthpop, enfim, tudo isso ajudou para que ele voltasse ao Brasil com uma ideia em mente de como soaria a banda que estava a montar com Schiavon.


De volta ao país, Paulo e Schiavon se uniram e convidaram Fernando Deluque para o posto de guitarrista e Moreno Júnior para baterista, mas, por ser menor de idade, ele precisou deixar as baquetas para Charles Gavin, que havia se desligado do Ira! e, com o RPM, gravou o primeiro compacto da banda, porém, aceitou o convite para entrar nos Titãs para o lugar do recém demitido André Jung que, curiosamente, foi para o seu lugar no Ira!, por onde permaneceu por 22 anos. Então, para o primeiro disco da banda, o baterista recrutado foi Paulo Pagni, o P.A., que entrou na parte final do processo e, por isso, ele não aparece na capa do álbum.


Com o compacto de “Louras Geladas” e “Revoluções Por Minuto” estourando nas rádios (P.A. não tocou bateria nelas), o disco foi um sucesso de vendas e trazia um som marcado pelo uso exacerbado de teclados, sintetizadores e bateria eletrônica, mas que agradou em cheio os jovens daquele Brasil que passava por um momento complicado: fim da Ditadura Militar, morte do primeiro presidente eleito através do voto antes mesmo de tomar a posse (Tancredo Neves). E, além das duas faixas do compacto, a obra trazia outros temas que seriam verdadeiros hits para uma geração.


A obra começa com um dos maiores clássicos do BRock: “Rádio Pirata“, que é amplamente aparada pelo teclado e pelos sintetizadores, e com uma letra bem interessante. Depois, aparece outro petardo: “Olhar 43“, uma música agitada em que a bateria dá o suporte para manter o pique, além da ótima combinação dos teclados, sintetizadores e baixo. O terceiro tema é “A Cruz e a Espada“, que é uma música lenta, com uma bela letra e também fez sucesso na época. Destaque para o solo de clarineta feita por Roberto Sion. Em seguida, em “Estação Inferno“, tem aquela pegada New Wave que Paulo Ricardo deve ter “afetado” em sua estadia em Londres. Já a faixa 5 é “A Fúria do Sexo Frágil Contra o Dragão da Maldade“, que é amplamente dominada pelo teclado e que fala diretamente de mulher (o tal do “sexo frágil”) e um estilo à New Order. E, para encerrar o lado A, outro grande sucesso dos caras: “Louras Geladas“, que teve a caixa de ritmo tocada por Luiz Schiavon, uma vez que o RPM enfrentava o impasse com relação à escolha do baterista.


Se por um lado, a maior parte das músicas do lado A ficou caracterizado pelas músicas mais “dançantes”, o lado B ficou caracterizado pelas letras mais sérias e politizadas, como pode ser conferida logo de cara com “Liberdade/Guerra Fria“, em que o teclado aparece, mas de forma mais suave em uma letra que trabalha bem o jogo de palavras e destaca a situação política mundial. Posteriormente, em “Sob a Luz do Sol“, a única creditada em trio (além de Paulo Ricardo e Schiavon, Fernando Deluqui acompanhou no processo de composição), mas que possui um bonito solo de guitarra. Depois, vem “Juvenilia“, uma faixa sombria com um teclado lúgubre. Enquanto isso, em “Pr’Esse Vício“, o teclado lembra vagamente algo mais lado B do Deep Purple e, talvez, seja a faixa mais fraca do play. E, encerrando a obra, outro clássico: “Revoluções Por Minuto“, que começa lenta, vai crescendo e, antes mesmo do primeiro verso, mantém a mesma base das faixas do lado A: teclados e sintetizadores tomando a música de assalto.


Com boa vendagem do disco, que foi bem produzido, diga-se por sinal, o RPM caiu na estrada e fez grandes shows pelo Brasil, com o palco cheio de pirotecnia, luzes, canhões com raio laser, enfim, com direito a produção de luzes sendo feita por Ney Matogrosso e os caras ainda assinaram com Manoel Poladian e o estouro do grupo foi tão grande que os caras, com apenas um disco de estúdio lançado no currículo, ousaram em lançar um disco ao vivo que manteve o grupo no topo, que foi “Rádio Pirata Ao Vivo“, que saiu em 1986. Guardadas às devidas proporções, o alvoroço que o RPM causou na época foi uma espécie de “Beatlemania brasileira”, além disso, a banda ainda tinha o carisma de Paulo Ricardo e a maestria dos teclados de Schiavon.


No entanto, o sucesso do RPM não durou muito, pois, o ego ligado à ganância das pessoas próximas ao grupo ou até mesmo entre os integrantes, colaboraram para que a banda não alcançasse voos mais altos, encerrasse as atividades precocemente ou, melhor, ficasse entre idas e vindas, mas sem repetir o sucesso de outrora que culminou em 900 mil álbuns vendidos em um pouco mais de um ano de lançamento.


Certamente esse trabalho de estreia do RPM está no rol dos melhores ‘debuts’ da história da música no Brasil. Vale tanto a aquisição e o status de clássico.


A seguir, a ficha técnica e o tracklist da obra.


Álbum: Revoluções Por Minuto
Intérprete: RPM
Lançamento: maio de 1985
Gravadora: Epic
Produtor: Luiz Carlos Maluly


Paulo Ricardo: voz e baixo
Luiz Schiavon: piano, sintetizadores e caixa de ritmos em “Louras Geladas” e “Revoluções Por Minuto
Fernando Deluqui: guitarra e violão
Paulo “P.A.” Pagni: bateria e percussão (exceto em “Louras Geladas” e “Revoluções Por Minuto“)


Luiz Carlos Maluly: violão em “A Cruz e a Espada
Roberto Sion: clarineta em “A Cruz e a Espada


1. Rádio Pirata (Paulo Ricardo / Luiz Schiavon)
2. Olhar 43 (Luiz Schiavon / Paulo Ricardo)
3. A Cruz e a Espada (Luiz Schiavon / Paulo Ricardo)
4. Estação do Inferno (Luiz Schiavon / Paulo Ricardo)
5. A Fúria do Sexo Frágil Contra o Dragão da Maldade (Luiz Schiavon / Paulo Ricardo)
6. Louras Geladas (Paulo Ricardo / Luiz Schiavon)
7. Liberdade/Guerra Fria (Luiz Schiavon / Paulo Ricardo)
8. Sob a Luz do Sol (Fernando Deluqui / Luiz Schiavon / Paulo Ricardo)
9. Juvenilia (Luiz Schiavon / Paulo Ricardo)
10. Pr’Esse Vício (Luiz Schiavon / Paulo Ricardo)
11. Revoluções Por Minuto (Luiz Schiavon / Paulo Ricardo)


Por Jorge Almeida

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