Rita Lee & Roberto de Carvalho: 35 anos do autointitulado álbum de 1990
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| "Rita Lee & Roberto de Carvalho", o álbum apático do casal que completa 35 anos de lançamento em 2025. |
No mês passado, o álbum “Rita Lee & Roberto de Carvalho”, lançado na época em vinil branco, completou 35 anos de lançamento. Produzido por Roberto de Carvalho, a obra saiu pela EMI-Odeon e ficou marcado pelo rompimento profissional do casal (que durou cinco anos).
Parafraseando a máxima
atemporal “Não julgue um livro pela capa”, os fãs e consumidores de música,
costumeiramente, usufrui do jargão em questão substituindo o “livro” pelo “disco”.
Porém, acredito que o contrário também acontece: pois há discos que, pela capa,
muita gente pré-julga o material, seja para o bem ou para o mal. E o caso de “Rita Lee & Roberto de Carvalho”, álbum
de 1990, já causa um certo incômodo pela capa. O olhar apático do casal Rita e
Roberto deixa nítido que algo já não estava bem com o casal, pelo menos em
termos de parcerias musicais, aparentando cansaço, desgaste, repetindo arranjos
e ideias que vinham se acumulando dos trabalhos mais recente.
Apesar da tentativa de
fazer algo diferente, como em “La Miranda”, a percepção é de que faltava
ânimo. E, de fato, tanto que os dois deram uma pausa na parceria musical.
Das dez faixas, a aposta
foi feita em “Perto do Fogo”, parceria de Rita Lee com Cazuza que,
embora não seja uma das mais inspiradas, é conduzida por uma chama afetiva,
atuando como um marco de despedida criativa entre os dois.
Depois, vem um dos (poucos)
bons momentos do play: “Coração Em Crise”, um rock direto, irônico e que
sintetiza como andava a situação deles. Na
sequência, surgem músicas que evidenciam a falta de rumo do álbum: como é o
caso de “Volta ao Mundo”, uma bossa suave, porém, descartável, e “Esfinge”,
mais esotérica do que efetiva.
Roberto de Carvalho assume os
vocais em duas faixas – “É a Vida” e “Farsa”, reforçando ainda
mais a impressão de que a parceria marchava para um hiato irremediável. Há
ainda “Uma Noite em Hong Kong”, outro tema assinado por Roberto sem
Rita, mais um indício nítido de repugnância criativa.
Entre os pontos altos, vale
destacar “Tipo Inesquecível”, um fox romântico que Rita sempre imaginou
na voz do amigo Ney Matogrosso (que foi quem apresentou Roberto a ela na década
de 1970), e especialmente a suave versão de “La Javanaise”, de Serge
Gainsbourg. Feita em clima de bossa e costurada com uma citação a “Desafinado”,
a faixa encerra o disco apontando para o futuro solo de Rita.
Nos cinco anos seguintes, Rita
Lee seguiu sua carreira solo, sem interferência ou envolvimento de Roberto de
Carvalho, que lançou o seu primeiro (e até agora) único álbum solo, mas, claro,
sem obter o mesmo sucesso. O casal, artisticamente falando, voltou em 1995 e
seguiram juntos até o fim.
Enfim, esse registro é considerado um dos discos mais fracos da carreira de Rita Lee, mas evidencia fielmente o que é, na prática, uma crise artística e pessoal. E, apesar de ser o “patinho feio” da discografia da cantora, ele saiu no box set “Discografia” (2015), caixa com 21 CD’s da carreira da cantora.
Portanto, para quem quer
colecionar o material da saudosa Rita Lee, esse pode deixar para o final.
E, neste mês, teremos mais Rita Lee por aqui. Aguardem.
A seguir, a ficha técnica
e o tracklist da obra.
Álbum: Rita
Lee & Roberto de Carvalho
Intérprete: Rita
Lee & Roberto de Carvalho
Lançamento:
novembro de 1990
Gravadora/Distribuidora: EMI-Odeon
Produtor:
Roberto de Carvalho
Rita Lee: voz
Roberto de Carvalho: voz, guitarra e teclados
Paulo Zinner: bateria
Pedro Calazans: teclados
André Christovam: slide guitar
Luiz Guilherme Rabello: percussão
Flávio Guimarães: gaita
1. Perto do Fogo (Rita Lee / Cazuza)
2. Coração Em Crise (Rita Lee / Roberto de Carvalho)
3. Uma Noite Em Hong Kong (Roberto de Carvalho / Júlio Barroso /
Tavinho Paes)
4. É a Vida (Rita Lee / Roberto de Carvalho)
5. Volta Ao Mundo (Rita Lee / Roberto de Carvalho)
6. Esfinge (Rita Lee / Roberto de Carvalho
7. Tipo Inesquecível (Rita Lee / Roberto de Carvalho)
8. Farsa (Roberto de Carvalho / André Christovam)
9. La Miranda (Rita Lee / Roberto de Carvalho)
10. La Javanaise (Serge Gainsbourg)
Por Jorge Almeida

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