Lobão: 20 anos de “Canções Dentro da Noite Escura”

"Canções Dentro da Noite Escura", de Lobão, completa 20 anos em 2025.

Em 2025, o nono disco de estúdio de Lobão, “Canções Dentro da Noite Escura”, chega ao seu 20° aniversário. Produzido por Carlos Trilha, o álbum foi lançado fora do circuito convencional das grandes gravadoras, de maneira independente, por meio do crowdfunding (dinheiro dos fãs) e distribuído em parceria com a revista Outracoisa.

O álbum surgiu do desconforto, da aflição e da percepção constante de cruzar noites tensas, pessoais antes de tudo. É um disco estrondoso quando precisa ser, poético quando encontra espaço e magnificamente delicado em determinadas ocasiões, sempre conduzido por mensagens que olham para dentro. Lobão não arrisca explanar o Brasil nem radiografar a infortúnio social; ele opta por explorar a alma de quem peregrina perdido nesse tempo de improbabilidades, como deixa claro em “Você e a Noite Escura”, uma das principais faixas do disco.

O disco se advém nitidamente no Rio de Janeiro — Copacabana, Ipanema, Leblon, Vidigal — e por isso muitos o creditaram como uma espécie de ópera-rock carioca. O começo com “Pra Sempre Essa Noite” já mostra esse duelo de afrontes: começa pesada, quase hostil, e de repente desmorona em uma bossa com frescor de samba e afirmação de amor à cidade e à vida. “Seda”, parceria póstuma com Cazuza, traz um blues melancólico e alinhado, enquanto “Depois das Duas” submerge em uma atmosfera claustrofóbico, citadino, com chuva, carros trafegando e uma amargura que não se esclarece só pelo horário. Essa primeira sequência prepara o terreno para dois dos momentos mais intensos do disco: “Boa Noite Cinderela”, dedicada a Cássia Eller, um blues violento e tocante, com uma das letras mais fortes da carreira de Lobão, e “O Homem-Bomba”, talvez a faixa mais pesada do álbum, onde ele interpreta uma figura à beira de uma derrocada.

Ao longo do disco, Lobão segue combinando rock, blues, eletrônica, bossa e samba com naturalidade. A obra ainda corteja com psicodelia e carnaval, como em “A Balada do Inimigo”, que contém guitarras incisivas e deboche aguçado, enquanto “Tranquilo” dá uma afrouxada, arriscando nos violões e numa polidez preciosa. As homenagens seguem em “Quente” e na releitura de “Não Quero Seu Perdão”, ambas a partir de textos de Júlio Barroso, tratadas aqui com mais peso emocional e menos nostalgia. O encerramento com “A Gente Vai Se Amar” retoma o tom de declaração afetiva, finalizando a obra nos mesmos modos operandi do início, ou seja, com guitarras e sentimento.

Não é um álbum simples, mas em “Canções Dentro da Noite Escura”, Lobão oferece uma obra coerente, pesada e fortemente particular. Enfim, um trabalho que merece ser redescoberto pelos jovens “sub-30”.

A seguir, a ficha técnica e o tracklist da obra.

Intérprete: Lobão
Lançamento: 2025
Gravadora/Distribuidora: L&C Editora / Encarta na revista Outracoisa N° 10
Produtor: Carlos Trilha

Lobão: voz, guitarras e arranjos

1. Pra Sempre Essa Noite (Lobão)
2. Seda (Lobão / Cazuza)
3. Depois das Duas (Lobão)
4. Boa Noite Cinderela (Lobão)
5. O Homem-Bomba (Basta! É O Caralho!!) (Lobão)
6. Vamos Para o Espaço (Lobão)
7. Você e a Noite Escura (Lobão)
8. A Balada do Inimigo (Lobão)
9. Tranquilo (Lobão)
10. Quente (Lobão / Júlio Barroso)
11. Aí Galera Maluca! (Lobão)
12. Não Quero o Seu Perdão (Lobão / Júlio Barroso / Taciana Barros)
13. A Gente Vai Se Amar (Lobão)

Por Jorge Almeida