A batida que conta histórias: o impacto sociocultural do samba *
Dia Nacional do Samba é marcado
pela análise do professor Lucas Souza, da UNIASSELVI, sobre o legado do samba
como tecnologia afetiva, elo entre gerações e inspiração para a música
periférica contemporânea.
O samba, ritmo que pulsa nas veias do Brasil, é
muito mais do que um gênero musical ou uma festa de Carnaval. É um
"artefato de tecnologia afetiva" que traduz a ambiguidade da
identidade nacional, reconta a história dos marginalizados e serve como
linhagem de resistência para a música periférica contemporânea. É o que afirma
o professor Lucas Souza, do curso de Antropologia da UNIASSELVI, em entrevista
sobre o papel sociocultural do samba, nesta data em que se comemora o Dia
Nacional do Samba.
Para o professor, a importância do samba na formação
da identidade nacional não reside na sua escolha como "símbolo do
Brasil", mas em sua capacidade de expressar, no corpo e no gesto, a
complexa experiência de ser brasileiro. "O samba nasce de comunidades
negras, ali no pós-abolição. Essas comunidades precisaram se reinventar desde
seu cotidiano, passando por questões de parentesco, festa e espiritualidade,
isso tudo sendo feito em cidades que os empurravam para as margens. Aqui
estamos falando também das criações dos morros e favelas”, explica.
Souza descreve o ritmo como uma forma de recontar a
história "dos esquecidos, dos marginalizados, dos grupos que não tinham
voz”. Para ele, mais que isso, o samba é uma tecnologia afetiva: ele cria
laços, suspende conflitos, organiza o tempo e devolve dignidade a esses corpos
que historicamente foram controlados, higienizados.
Ancestralidade e conexão com
outros ritmos musicais
Embora gêneros como o funk e o rap tenham ganhado
destaque, o samba mantém sua vitalidade por compartilhar com eles uma história
de luta e marginalização. "O samba historicamente foi criminalizado,
desqualificado, tratado como barulho e não como cultura, e é isso que o funk e
o rap tem enfrentado," aponta o professor. Essa história compartilhada
sustenta a conexão: os três surgem na periferia, com corpos negros, e precisam
lutar por reconhecimento cultural.
Souza define o samba como o "pai que abriu as
portas" para a visibilidade de ritmos contemporâneos e cita como exemplo o
encontro entre a cantora pop global Anitta e um baluarte da velha-guarda da
Império Serrano na Marquês de Sapucaí. "É como se o samba falasse 'eu
conheço esse caminho, eu já estive onde vocês estão'”, resume, destacando a
linhagem de resistência que o samba oferece.
Em se tratando das escolas de samba, o docente as
considera como verdadeiras "escolas da vida" e não apenas agremiações
festivas. Elas evoluíram dos ranchos carnavalescos do século XIX, incorporando
uma estrutura que não é apenas metafórica. "A 'escola' no nome não é
apenas metáfora: existia mesmo o sentido de ensino, de transmissão de saberes,
não só musicais, mas sociais, corporais," ressalta.
Criado na escola de samba Porto da Pedra, Souza
reforça o caráter formativo e pedagógico na prática. “Minha família é composta
por essa gente do samba. Meus irmãos, por exemplo, aprenderam a tocar tamborim
dentro da bateria da escola, e meu pai é compositor ativo. Então, não é só festa”.
Neste contexto, o especialista cita a Universidade
Livre do Carnaval (UniCarnaval), dedicada a formar profissionais para a
economia criativa do Carnaval.
As rodas de samba e a presença
feminina
Longe dos espetáculos do Carnaval, a roda de samba
contemporânea, em especial, em locais como a Pedra do Sal, um quilombo urbano
na "Pequena África" carioca, funciona como um território de memória e
resistência.
Para o antropólogo, as rodas são uma narrativa oral
e um comentário político, onde as ancestralidades se reencontram e a comunidade
remanescente de quilombo reafirma sua existência. A roda é um espaço de
sociabilidade comunitária que convoca a memória. "Ali, o que se produz é
palma da mão, é paô, ou seja, é um pouco desse bater de palmas de uma gira das
religiões de matrizes africanas," explica Souza.
Quanto à presença das mulheres no samba, as Tias
Baianas (Tia Ciata, Tia Amélia, entre outras), foram a fundação do samba,
acolhendo músicos e criando os espaços de resistência que permitiram o ritmo
existir apesar da repressão.
No entanto, essa liderança foi muitas vezes
invisibilizada. Dona Ivone Lara, por exemplo, precisou usar nomes de terceiros
para que suas composições circulassem em um ambiente majoritariamente
masculino. Apesar das conquistas, as barreiras estruturais persistem. O
professor lembra que até hoje, nenhuma mulher é intérprete oficial solo de uma
grande escola de samba do Grupo Especial no Rio de Janeiro, nem mestra de
bateria. "No samba, o microfone e a bateria são os dois centros de comando",
destaca. “Quando as mulheres são excluídas justamente desses postos, a mensagem
é clara: o sistema ainda não reconhece plenamente sua liderança, ficam elas
como musas e rainhas de bateria, onde suas estéticas acabam valendo mais,"
conclui, reiterando que o samba não teria acontecido sem a força, inteligência
e articulação das mulheres.
Sobre a UNIASSELVI
A UNIASSELVI é uma das mais
conceituadas instituições de ensino superior do Brasil. Com uma oferta
diversificada de mais de 500 cursos, que incluem Graduação, Pós-Graduação,
Profissionalizantes e Técnicos, tanto na modalidade presencial quanto a
distância (EAD), a instituição se destaca pela sua abrangência e qualidade
educacional. Presente em todos os estados brasileiros, a UNIASSELVI conta com
uma ampla rede de mais de 1,2 polos e mais de 16 campi de ensino presencial. É
reconhecida como a única instituição de grande porte nacional a receber nota
máxima no Recredenciamento Institucional, concedido pelo Ministério da Educação
(MEC). A missão da UNIASSELVI é fornecer os recursos e o suporte necessários
para que os alunos construam suas próprias histórias e alcancem o sucesso
acadêmico e profissional, promovendo assim o desenvolvimento pessoal e
profissional de cada estudante.
Créditos: Gabriela Silva
Barbosa Rodrigues | Weber Shandwick
* Este conteúdo
foi enviado pela assessoria de imprensa
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