Planet Hemp: 30 anos de “Usuário”
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"Usuário", do Planet Hemp, completa 30 anos de lançamento em 2025. |
Recentemente, divulgamos que o Planet Hemp anunciou alguns convidados para a sua despedida no show que será realizado no Allianz Parque. Aproveitando o assunto, vamos destacar a respeito do primeiro trabalho dos caras, “Usuário”, que completou 30 anos de lançamento neste ano. Produzido pela banda em conjunto com Fábio Henriques, a obra foi lançada pela Sony Music/Chaos e apresenta 17 temas que falam, em sua maioria, sobre a defesa do uso da maconha e de críticas sociais.
O grupo nasceu quando Marcelo D2, na época vendedor ambulante no Rio de
Janeiro, encontrou Luís Antonio da Silva Machado, o Skunk, e os dois começaram
a dialogar sobre música, surgindo daí uma amizade entre os dois e, ambos
tiveram a ideia de montar uma banda de rock, mas como não sabiam tocar
instrumentos, começaram pelo RAP. O nome da banda foi tirado de uma revista
norte-americana – “High Times” -, especializada sobre
o cultivo de maconha. No entanto, o Planet Hemp não ficou limitado apenas ao
RAP, pois, com a chegada de Rafael Crespo, Bacalhau (não confundir com o
baterista do Ultraje A Rigor), Formigão, além de Zé Gonzalez, com guitarra,
baixo e bateria, a banda pegou as letras de D2 e Skunk e deu um novo arranjo
totalmente diferente do original, mesclando o rap do vocal de Marcelo D2, com a
psicoledia das guitarras, além de outras influências musicais, como punk,
hardcore e reggae.
Os caras
registraram uma demo que circulou pelo meio alternativo de Rio de Janeiro, São
Paulo, Belo Horizonte e Curitiba. Mas, em 1994, o “Hempa” sofreu a primeira
baixa: Skunk morreu em decorrência da AIDS e, por pouco, a banda não acabou,
pois seguiram adiante a pedido da mãe de Skunk e dos amigos. E o grupo ganhava
mais uma integrante: BNegão, que marcava presença em todos os shows da banda,
assumiu o outro vocal.
Ainda em
1994, o Planet Hemp assinou contrato com a Sony Music, gravou o álbum “Usuário” e, assim, ganhou projeção
nacional e emplacou alguns sucessos para o público jovem da época. O álbum
vendeu mais de 140 mil cópias, rendendo a Marcelo D2 e companhia o Disco de
Ouro.
O pontapé do disco vem com “Não Compre, Plante!”,
em que a guitarra deixa claro que o grupo não teria apenas RAP. Como o título
da música deixa claro, os membros da banda acreditam que, se liberarem a
maconha, poderia diminuir o poder financeiro do tráfico de drogas. Na
sequência, a polêmica “Porcos Fardados”, em que a crítica
à polícia se faz presente e relata o cotidiano de integrantes da corporação
quando estão em atividade que, segundo a banda, protege os ricos e, ao mesmo
tempo, entra nas casas das pessoas sem mandato. Nela, D2 cita “Bicho Feroz”, clássico
de Bezerra da Silva. O terceiro tema é a célebre “Legalize Já”, em que
os caras trazem motivos para apontar que existem coisas piores que a cannabis
são vendidas livremente, mas que a maconha, se consumida de maneira moderada,
não traz malefício. Na sequência, vem a curta “Deisdazseis” que
abre com estilo para “Phunky Buddha”, que tem um quê de
Rage Against The Machine, e, depois, em “Maryjane”, os caras
não decepcionam no Hard Rock e mandam bem na ‘mistureba’ com o RAP.
Depois, a banda manda uma pequena faixa, que trás o nome da banda, que
serve como uma ponte para “Fazendo Sua Cabeça”,
cuja temática fala, mais uma vez, a realidade das favelas do Rio de Janeiro,
especialmente com relação à violência urbana. Posteriormente, vem o samba “Futuro do País”, que tem uma guitarra que começa
discretamente até deixar a música bem pesada. A faixa dez trata-se de outro
clássico do PH: “Mantenha o Respeito”, em que
Marcelo D2 fala de desigualdade e pede respeito aos usuários de maconha e com
direito a com direito a o vocalista citar discretamente “Nobody Move, Nobody Get Hurt“, do Yellowman. Em
seguida, aparece a rancorosa “P… Disfarçada” em
que é abordado sobre o término de um relacionamento com uma mulher de classe
social superior (algo semelhante à “Lôra Burra”, do
Gabriel O Pensador).
Enquanto isso, a última parte da obra começa com a instrumental “Speed Funk”, ao melhor estilo Red Hot Chili Peppers. Em
seguida, em “Muthafuckin’ Racists”, em que a mensagem é nítida que,
com o Planet Hemp, o racismo não terá vez, e, em seguida com “Dig Dig Dig (Hempa)”, outra letra em que Marcelo D2
destaca a discriminação que o usuário “da erva” tem e é tratado como bandido. O
Planet Hemp apresenta “Skunk” uma bela faixa instrumental
que homenageia o co-fundador da banda. Já em “A Culpa É de Quem?”,
em que a banda critica a hipocrisia de quem veta o uso da maconha, mas permite,
por exemplo, o consumo de bebidas alcoólicas e de quem “rouba no Planalto”, mas
o “maconheiro” é taxado de marginal. E a obra é finalizada com “Bala Perdida”, cujo título praticamente já traduz tudo:
outra música que fala sobre a árdua realidade do Rio de Janeiro e que, em um
quarto de século depois, não deixa de ser atual, infelizmente.
Como podemos observar, “Usuário” ainda segue
como um disco atual, pelas suas temáticas. Na década de 1990, tornou-se um
clássico do rock brasileiro, porém, rendeu muitos problemas à banda, sejam com
processos, prisões, cancelamentos de shows, mas, para sorte do grupo, sempre
davam um jeito de sair do ‘xilindró’. E, por incrível que pareça, esse
conservadorismo por parte das autoridades com relação à banda, só deu mais
exposição e adeptos de Marcelo D2 e companhia.
E,
convenhamos, apesar de remar contra a maré, pois, a música brasileira da época
estava com o pagode e o axé em alta, o Planet Hemp deixou a sua impressão no
mercado. Um clássico absoluto da década de 1990.
A seguir, a
ficha técnica e o tracklist da obra.
Por Jorge
Almeida
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