As atrizes Clara Carvalho, Magali Biff, Mariana Muniz e Vera Zimmermann encenam o espetáculo Projeto Clarice, sob direção de Cesar Ribeiro; obra traz cinco contos de Clarice Lispector *
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Foto meramente ilustrativa. |
Peça adapta os contos Via Crucis, Menino a Bico de Pena, A Legião Estrangeira, Amor e O Ovo e a Galinha, de Clarice Lispector, para abordar questões como subjetividade e identidade, alteridade, família e afetos
A montagem apresenta canções oriundas de jogos eletrônicos, budots (música eletrônica das Filipinas e espécie de techno de rua), punk, Mercedes Sosa e efeitos sonoros
O
espetáculo Projeto Clarice traz para
o palco o encontro entre as atrizes Clara
Carvalho, Magali Biff, Mariana
Muniz e Vera Zimmermann e o diretor Cesar
Ribeiro, com o desejo de refletir sobre o feminino a partir de temas que
percorrem a obra de Clarice Lispector, como subjetividade,
identidade, alteridade, família e afetos. Com adaptação também de Ribeiro, a
obra foi construída a partir de cinco contos da escritora – Via Crucis,
Menino a Bico de Pena, A Legião Estrangeira, Amor e O Ovo e a Galinha – e
faz sua temporada de estreia entre os dias 16 de outubro e 9 de
novembro, de quinta a domingo, no Teatro Cacilda Becker. Os ingressos custam R$
20 (veja a programação completa abaixo).
Cada texto retrata um aspecto diferente da vida de uma mulher e tem como
protagonista uma das atrizes: Via Crucis é uma parábola sobre
o nascimento de Cristo; Menino a Bico de Pena foca na relação
entre mãe e filho a partir da alteridade; A Legião Estrangeira trata
da formação da identidade tendo como base a relação entre uma mulher e uma
menina; Amor destaca a identidade de uma mulher em meio ao seu
núcleo familiar; e O Ovo e a Galinha é uma espécie de
metafísica de todas essas situações.
As narrativas
se alternam entre cenas individuais e dialógicas, predominantemente com
participações das outras atrizes e agentes narrativos em momentos da
encenação. A ideia da montagem é discutir a
construção do feminino em uma sociedade machista, de uma maneira lúdica e
poética. “Essas histórias falam de questões cotidianas a partir da epifania, do
monólogo interior e da relação feminino-masculino”, diz o diretor.
A atriz Magali Biff coloca que os contos mostram a capacidade da mulher
de ser afetada por detalhes da vida “de certo modo rotineiros, mas que a mulher
se deixa atravessar por eles e se transformar a partir deles, colocando todas
elas com a possibilidade de viver sua humanidade de maneira absoluta”.
Vera Zimmermann, que, assim como Magali, trabalha pela primeira vez com
Ribeiro, completa que, embora tenham enredos e tons diferentes, os contos trazem
pontos de contato profundos, além do instante de estranhamento da vida comum.
“Outro ponto em comum dos contos é a presença da alteridade, em que Clarice
confronta suas personagens com o ´outro´, seja no campo do literal ou do
simbólico. O desconforto existencial é outro aspecto convergente. Há sempre uma
sensação de estranhamento, uma fissura na realidade que provoca angústia”,
coloca.
“Projeto
Clarice" é, nesse sentido, um novo passo no trabalho desenvolvido por Cesar
Ribeiro. Sua trajetória, há muito tempo, aborda os sistemas de violência a
partir de estéticas que falam sobre distopias. “A realidade em que vivemos, com
todas as violências no Brasil desde seus marcos fundantes e a constante
tentativa de golpes pela direita, é em si uma distopia. Desde Trilogia
Kafka, estamos atentos e continuamos falando sobre essas violências, mas
com aspectos mais lúdicos e poéticos”, diz Ribeiro.
O novo
espetáculo busca uma estética da utopia, e não da distopia. Na direção, Cesar
Ribeiro explora uma atuação que mescla realismo, simbolismo e extrarrealismo.
“Isso acontece porque há momentos em que os corpos estão dentro de uma
convenção social e momentos em que os corpos estão à margem dessa convenção”,
afirma o diretor.
“Nós quatro
somos atrizes que usamos o corpo para compor seus personagens, temos esse
filtro físico com texturas diferentes. A Ana que eu faço, do conto Amor,
vai de uma postura composta e comportada de dona de casa e mãe de uma família
de classe média a uma ruptura física violenta, perturbada e muito intensa ao
entrar em contato com o homem cego que masca chicletes sem sofrimento. Ela
sofre uma grande expansão sensorial e emocional quando experimenta uma piedade
violenta, transformadora, que faz seus valores serem abalados e uma outra
possibilidade de mundo se abrir. Tento construir essa transformação física e
emocional que a Clarice coloca nas palavras”, revela Clara Carvalho.
Para o
diretor, as atrizes, além das técnicas de cada uma, têm um conhecimento prévio
da obra de Clarice Lispector e se apropriaram dos textos e da linguagem
estética, trabalhando com criatividade na proposição da atuação e do desenho cênico,
algo fundamental em um teatro processual em que desde a adaptação a montagem é
construída para essas atrizes e suas especificidades.
Mariana Muniz
conta que Cesar Ribeiro é um diretor que costuma ter as indicações de encenação
apontadas, descritas no próprio texto. “As nossas contribuições ou sugestões
acontecem no decorrer das apropriações ou corporificações dos contos. Elas
ocorrem pelo necessário trabalho de compreensão e estudos para concretização
das cenas, já muito pensadas e elaboradas pelo diretor. Penso que trouxe, e
trago, para as cenas de que participo, o fundamental aparato de vivências
impressas no meu corpo, ao longo de 50 anos de trabalho quase ininterrupto”,
completa.
O
protagonismo é feminino, mas existem figuras masculinas presentes no
espetáculo. Pedro Conrado, Matheus Sabbá e Eneas
Leite aparecem vestidos de smoking preto e máscaras de peixe, aludindo
a uma masculinidade sem rosto, em uma referência a outro livro de
Clarice, A Mulher que Matou os Peixes.
tramas
de Projeto Clarice não se situam em nenhum local ou tempo
específico. Por isso, o cenário cria um território simbólico.
“A cenografia será cumulativa, ou seja, os elementos vão se somando a cada
conto. O boneco bebê que simboliza Cristo na primeira cena se transforma em
várias bonecas na segunda cena”, comenta o diretor.
Outro aspecto
importante da peça é representar uma sociedade pautada pela impressão de
velocidade do tempo, decorrência da velocidade dos avanços tecnológicos, da
profusão de informações e do ritmo urbano – e a trilha sonora transmite essa
sensação. A encenação apresenta a vida como um grande jogo e, por isso, a
montagem apresenta canções oriundas de jogos eletrônicos,
budots (música eletrônica das Filipinas e espécie de techno de rua), punk,
Mercedes Sosa e muitos efeitos sonoros.
“O espetáculo
busca refletir sobre a construção do feminino em um mundo em que os casos de
feminicídio só aumentam. Queremos tanto gerar identificação das mulheres quanto
fazer os homens repensarem sua masculinidade”, finaliza o encenador.
Este projeto
foi contemplado pelo Governo do Estado de São Paulo, Secretaria da Cultura,
Economia e Indústria Criativas, Governo Federal, Ministério da Cultura e Lei
Aldir Blanc.
Sinopse
A partir da
adaptação de cinco contos de Clarice Lispector,
composta pelos textos Via Crucis, Menino a Bico de Pena, A
Legião Estrangeira, Amor e O Ovo e a Galinha,
o espetáculo aborda conceitos de família, relações afetivas e alteridade sob o
olhar de Clarice. A adaptação e direção é de Cesar Ribeiro, com as
atrizes Clara Carvalho, Magali Biff, Mariana Muniz e Vera
Zimmermann.
Créditos:
Dani Valério | Canal Aberto
* Este conteúdo foi enviado pela assessoria de imprensa
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