"Cinemas do Futuro" *
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| Foto meramente ilustrativa. |
Salvador, Bahia – De 6 a 9 de novembro de 2025, a capital baiana recebe o ciclo Cinemas do Futuro: Ciclo de Filmes da Cinémathèque Afrique, integrando a programação oficial do Festival Nosso Futuro Brasil–França: Diálogos com a África, parte da Temporada França-Brasil 2025. Com curadoria da professora Morgana Gama (UFBA), a mostra apresenta 24 filmes africanos e da diáspora, divididos em dois eixos temáticos — Memórias para o Futuro e Histórias para o Futuro —, com sessões gratuitas na Sala Walter da Silveira e no Cinema Saladearte da UFBA.
A sessão de abertura, em 6/11 às 18h na
Sala Walter, exibirá Njangaan (1975), raro longa-metragem do diretor
senegalês Mahama Johnson Traoré, recentemente restaurado e
que terá sua estreia no Brasil após uma apresentação no Festival Lumière em
outubro de 2025.
Organizada pelo Institut Français e
pela Cinemateca
da Embaixada da França no Brasil, a mostra Cinemas do
Futuro destaca o patrimônio cinematográfico africano
preservado na Cinémathèque Afrique. Criada em 1961, essa
cinemateca abriga um acervo excepcional com mais de 1.700 filmes de 45 países
do continente, abrangendo produções de 1950 até hoje. Desde 2018, o IF lançou
um amplo programa de valorização e difusão desse acervo: 50 filmes
africanos estão sendo restaurados entre 2018 e 2026, permitindo
que obras importantes sejam redescobertas por novas audiências em festivais e
salas de cinema ao redor do mundo. “Reinscrever a Cinemateca da África no
centro dos desafios contemporâneos de transmissão, educação, acessibilidade e
diversidade de olhares faz parte de nossa ambição”, afirma a organização do
Institut Français. Em Salvador, o público terá a chance inédita de assistir a
algumas dessas jóias restauradas em tela grande.
Concebida para celebrar a riqueza e a pluralidade
cultural do continente africano e de suas diásporas, a mostra Cinemas do
Futuro conecta obras clássicas e produções contemporâneas,
questionando “quais memórias e histórias queremos ver em nosso futuro”.
Dividida em dois eixos temáticos — Memórias para o Futuro (filmes africanos
clássicos) e Histórias para o Futuro (filmes recentes) —,
a seleção propõe um diálogo entre gerações de cineastas.
Entre os clássicos restaurados, destaque para África sobre
o Sena (1955), considerado o primeiro filme dirigido por
cineastas africanos — um curta documental realizado em Paris pelos
senegaleses Paulin Vieyra e Mamadou Sarr,
que explora as tensões entre o legado africano e a vida no exílio. Outra
raridade exibida será Nacionalidade do Imigrante (1975), de Sidney
Sokhona, crítica contundente à exploração de trabalhadores
africanos imigrantes na Europa pós-colonial. Do pioneiro do Níger Moustapha
Alassane, será apresentado o curta de animação em
stop-motion Samba, o Grande (1977), inspirado na tradição
oral dos griots. O público também poderá rever obras-primas do senegalês Djibril Diop
Mambéty, um dos mais influentes cineastas africanos do século
XX: Le
Franc (1994), sobre um músico às voltas com um bilhete de
loteria, e A Pequena Vendedora de Sol (1999), poético
média-metragem protagonizado por uma menina vendedora de jornais em Dakar.
Essas narrativas clássicas — que abordam desde identidade e migração até os
desafios da educação e do cotidiano urbano — lançam um olhar ao passado para
iluminar questões ainda urgentes no presente, instigando reflexões para o
futuro. Assim como o símbolo africano Sankofa — o pássaro que voa para frente
olhando para trás —, a mostra defende que não há futuro possível sem revisitar
a memória e aprender com a história.
No eixo das histórias contemporâneas, Cinemas do
Futuro apresenta filmes recentes e premiados que imaginam
novos horizontes para as sociedades africanas. Os filmes contemporâneos que
compõem a mostra compartilham a busca por “histórias que nos levam a imaginar e
sonhar com outras realidades”, como afirma Morgana Gama, mas também nos fazem
“revisitar conflitos e contradições do passado”. Para a curadora, essas
narrativas “nos convidam a pensar na construção do futuro pela valorização de
memórias do passado e a preservação das histórias do presente”. Um exemplo é o
filme sudanês Você Morrerá aos 20 (2019), premiado no
Festival de Veneza com o Luigi De Laurentiis Award de melhor estreia, um drama
sensível sobre um jovem confrontando uma profecia de morte. Em À Sombra das
Figueiras (2022), a diretora tunisiense Erige Sehiri capta
com delicadeza os vínculos, as frustrações e os sonhos de um grupo de jovens
durante o trabalho no campo, dando destaque especial às vozes femininas
frequentemente marginalizadas. A mostra inclui ainda o vibrante Casablanca
Beats (2021), do cineasta marroquino Nabil Ayouch,
no qual um ex-rapper incentiva jovens de um bairro popular a se expressarem
através do hip hop, desafiando tradições. A seleção continua com filmes que
abordam o destino da juventude: a animação Black Barbie (2016),
do cineasta ganês Comfort Arthur, parte de uma experiência pessoal
para questionar padrões de beleza que negam a diversidade; já Nós,
estudantes (2022), de Rafiki Fariala,
acompanha o cotidiano de jovens universitários em Bangui e seus sonhos em meio
a circunstâncias adversas.
Completando o panorama, filmes de gêneros diversos —
fantasia, romance, infanto-juvenil — mostram a versatilidade da produção
africana atual: da ficção científica poética Mångata (2023)
à história de amor e resistência anticolonial ambientada na Zanzibar dos anos
1950, Cabo
de Guerra (2021), passando pelo suspense social
maliense Garibou (2023)
e pelo curta egípcio Micro-ônibus (2021), que aborda a questão do
assédio enfrentado por mulheres no transporte público do Cairo.
Apesar da diversidade de estilos e origens, todas
essas obras contemporâneas compartilham uma busca comum: recontar histórias
presentes para transformar o futuro. Seja ao revisitar traumas históricos ou
celebrar a criatividade e a resistência cotidiana, esses filmes recentes
dialogam diretamente com os clássicos, demonstrando a continuidade — e a
constante renovação — do imaginário africano.
Além das projeções, a mostra Cinemas do
Futuro promoverá duas mesas-redondas com especialistas
convidados, aprofundando os temas dos dois eixos programáticos. Na Mesa 1: Quais
memórias para o futuro? (7/11, 15h, Saladearte UFBA),
pesquisadores e professores discutirão a importância da preservação,
restauração e difusão de filmes africanos clássicos como parte do patrimônio
cultural mundial e ferramenta de educação. Participam nomes como Detoubab
Ndiaye (UNEB), Eumara Maciel (UFBA) e Marcelo
Ribeiro (UFBA), que trarão comentários sobre filmes
restaurados exibidos na mostra — caso de Njangaan, Samba, o
Grande, Lamb e África sobre o Sena. Já a Mesa 2: Quais
histórias para o futuro? (8/11, 15h, Saladearte UFBA) reunirá
jovens cineastas e estudiosos — a exemplo de Lucas Ribeiro (TRAMA), Matheus
Araújo (UFRB) e Francisco Alves (UFBA)
— para debater as estratégias narrativas do cinema africano contemporâneo e da
diáspora, refletindo sobre representatividade, inovação e impacto social dessas
produções. Ambas as mesas têm entrada franca e pretendem aproximar o público
soteropolitano das reflexões propostas pelos filmes, fomentando um diálogo
direto entre criadores, pesquisadores e espectadores.
A programação da mostra integra oficialmente o Festival
Nosso Futuro Brasil–França: Diálogos com a África, que durante
quatro dias ocupará diversos espaços de Salvador com atividades culturais.
Enquanto o fórum principal do festival debate “Cidades Inclusivas” com
intelectuais renomados e a cidade vibra com shows afro-urbanos e gastronomia
afro-diaspórica, Cinemas do Futuro assume o papel de celebrar
as histórias e memórias cinematográficas que conectam Brasil, África e França.
Com olhares voltados ao passado e ao presente, a mostra convida o público
baiano a sonhar futuros possíveis, inspirados pelas lições, lutas e beleza que os
cinemas africanos e afrodiaspóricos nos oferecem.
Créditos: Carolina Amoedo |
A4&Holofote Comunicação
* Este conteúdo foi enviado pela assessoria de imprensa

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