Luto no futebol: morre o lendário goleiro Manga
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O ex-goleiro Manga sendo homenageado no Engenhão. Créditos: Vítor Silva/Botafogo |
Considerado um dos maiores arqueiros de todos os tempos,
Manga representou tanto a posição que a data de seu aniversário, 26 de abril,
foi escolhida como o "Dia do Goleiro" e ficou conhecido também por
jogar sempre sem luvas.
O pernambucano Haílton Corrêa de Arruda, nascido em
Recife em 26 de abril de 1937, começou a sua carreira no Sport Recife na metade
da década de 1950 e, antes de se tornar profissional, foi campeão pernambucano
de juniores de 1954, sem sofrer nenhum gol, o que o levou a ser comparado com
Manga, então goleiro do Santos, do qual "herdou" o apelido. O feito
chamou atenção do técnico Gentil Cardoso que o promoveu para os profissionais
do Leão da Ilha. Pelo rubronegro da Praça da Bandeira, o goleiro foi campeão
pernambucano em 1955, 1956 e 1958, sendo apenas na última como titular, posto
que ganhou após boas atuações na excursão feita pelo time recifense à Europa e
ao Oriente Médio em 1957.
Em 1959, chegou ao Botafogo, onde também fez história e
atuou por dez anos. Em 442 jogos com a camisa do Glorioso, Manga sofreu 394
gols, mas foi campeão estadual do Rio de Janeiro em 1961, 1962, 1967 e 1968,
além do Torneio Rio-São Paulo de 1962, 1964 e 1966. Demonstrando agilidade na
repoisção de bola e agilidade embaixo das traves, o goleiro foi convocado para
ser titular da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1966. Inclusive, em uma
infeliz coincidência, a trajetória de Manga com a Seleção Canarinho não foi tão
exitosa como foi nos clubes que defendeu.
Negociado com o Nacional de Montevidéu, em 1969, Manga
teve um dilema familiar: a sua esposa não o acompanhou para o Uruguai e
resolveu ficar com os filhos em Recife. Ele queria continuar no Brasil,
chegando a ser cotado para o Atlético Mineiro, mas a negociação não evoluiu e,
então, foi para o Uruguai. Por lá, com a camisa do Tricolor, colecionou mais
títulos: o tetracampeonato uruguaio (1969, 1970, 1971 e 1972), uma Copa
Libertadores da América, uma Copa Intercontinental e uma Copa Interamericana,
todas conquistadas em 1971. As seis temporadas no Nacional ajudaram a
creditá-lo como o brasileiro recordista em disputa de jogos pela Libertadores,
mas o feito foi confirmado graças ao Internacional, que o recrutou em 1974 e
fez parte de um dos maiores esquadrões do futebol brasileiro.
Com o manto colorado, Manga foi tricampeão gaúcho em
1974, 1975 e 1976 e bicampeão brasileiro - 1975 e 1976. Na final do Brasileirão
de 1975, o goleiro estava com dois dedos da mão quebrados, não quis nem saber,
tirou o gesso e foi para o jogo. Inclusive, foi na decisão com os mineiros que
o goleiro afirma ter feito a sua defesa mais difícil da carreira, ao pegar um
chute do lateral-direito Nelinho. Foi na sua estadia no Inter que foi
instituído o "Dia do Goleiro", que foi criado pelo tenente Raul
Carlesso e o capitão Reginaldo Pontes Bielinski, ambos professores da Escola de
Educação Física do Exército, em 1976.
Já em final de carreira, aos 40 anos, o goleiro foi jogar
no Operário (MS) em 1977, onde foi campeão matogrossense (um pouco antes do
desmembramento do estado do Mato Grosso do Sul em 11 de outubro de 1977). Em
1978, Manga teve uma rápida passagem pelo Coritiba, mas não saiu de mãos
vazias: foi campeão paranaense em 1978. No ano seguinte, foi jogar no
arquirrival do Inter, o Grêmio e, com as cores do Tricolor dos Pampas, também
foi campeão, levando o gauchão de 1979, onde quebrou o pacto entre a dupla
Grenal que não contratava jogadores que atuaram pelo rival. O Colorado acusa o
Imortal por ter quebrado o acordo, mas o Grêmio alega que a proibição só era
válida se o passe do jogador fosse direto do Inter, o que não era o caso de Manga,
que veio do Coritiba. Bom, mas independentemente de quem está certo no pacto, o
fato é que, depois do goleiro, vários jogadores já vestiram as duas camisas.
E, em 1982, aos 45 anos, encerrou a carreira no
Barcelona, do Equador (sim, o carrasco do Corinthians na pré-Libertadores deste
ano), onde ainda foi campeão equatoriano de 1981.
Depois que pendurou as luvas, Manga passou a viver no
Equador, onde se casou pela segunda vez, com Maria Cecília, com quem viveu por
mais de 40 anos. Com a esposa, chegou a morar no Uruguai para tratar da saúde,
chegou a ser embaixador do Internacional e também supervisor de treinadores de
goleiros até 2012.
De volta ao Equador, Manga passou a ter problemas renais,
ficando internado várias vezes em Quito. No entanto, em meados de 2020, graças
a uma mobilização encabeçada pelo jornalista Marcelo Gomes, da ESPN, que foi à
capital do Equador para fazer uma reportagem especial com o ex-goleiro. Durante
a gravação da entrevista, emocionado, Manga começou a chorar e pediu para que alguém
o ajudasse para voltar ao Brasil. Segundo o jornalista, em reportagem feita
pela ESPN, ele ligou para o Retiro dos Artistas e o presidente da instituição,
o ator Stepan Nercessian disse que, pela primeira vez em mais de 100 anos da
instituição, um ex-jogador de futebol era convidado a residir no local. Neste
link tem a artigo especial do jornalista Marcelo Gomes sobre a carreira de
Manga e seus últimos anos.
No Rio de Janeiro, Manga foi homenageado pelo Botafogo em
vida e, sempre quando dava, visitava o Engenhão para ver o jogo do Fogão.
Nas redes sociais, muitas homenagens de fãs, torcedores,
jornalistas, jogadores e ex-jogadores e, claro, dos clubes por onde ele atuou.
E, assim, infelizmente, o Brasil perde mais um grande
ídolo do esporte.
Descanse em paz, Manga.
Por Jorge Almeida
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