Vasco afunda em dívidas e busca na recuperação judicial uma solução para evitar o declínio, por Leonardo Zenkoo, da CCLA Advogados *
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| Foto meramente ilustrativa. |
A recente decisão do Vasco da Gama de ingressar com um pedido de Recuperação Judicial tem gerado grande repercussão e merece uma análise detalhada sobre o procedimento e suas implicações. Essa medida, prevista na Lei nº 11.101/2005, visa permitir que empresas em dificuldades financeiras possam se reestruturar, garantindo a continuidade das atividades, a preservação dos empregos e o pagamento das dívidas de maneira viável.
O cenário econômico brasileiro tem sido marcado por
um expressivo aumento no número de empresas que recorrem à Recuperação
Judicial. Dados da Serasa Experian apontam que, em 2024, foram registrados
2.273 pedidos, um crescimento de 61,8% em relação ao ano anterior. Isso reflete
as dificuldades enfrentadas pelas empresas para manter suas operações diante de
crises financeiras e desafios estruturais. A crise econômica, aliada a má
gestão e altos custos operacionais, tem sido um dos fatores determinantes para
que organizações de diversos setores, incluindo clubes de futebol, recorram a
esse tipo de mecanismo jurídico.
No caso do Vasco, a adesão ao Regime Centralizado de
Execuções (RCE) em 2021 representou uma tentativa de organizar e otimizar a
gestão das execuções contra o clube, reunindo as diversas ações em um único
processo. Contudo, o RCE se mostrou insuficiente para resolver a totalidade das
dívidas, uma vez que abrangia apenas as execuções em curso, sem alcançar todos
os credores. A complexidade financeira do clube, aliada à falta de liquidez
para cumprir suas obrigações, fez com que a diretoria optasse por um caminho
mais abrangente e que proporcionasse maior fôlego financeiro para reorganizar
suas contas.
Diante disso, a Recuperação Judicial surge como um
caminho mais estruturado para a reestruturação financeira do clube. Esse
procedimento envolve uma série de etapas, desde a apresentação do pedido ao
juiz, passando pela nomeação de um administrador judicial, a suspensão das
execuções por 180 dias (o chamado “stay period”), até a apresentação e
aprovação do Plano de Recuperação Judicial pelos credores. Caso aprovado, o
clube terá um período de dois anos para cumprir o plano sob fiscalização
judicial, sob pena de convolação em falência caso descumpra suas obrigações.
A decisão do Vasco não é um caso isolado no futebol
brasileiro. Outros clubes já enfrentaram problemas financeiros significativos e
recorreram a mecanismos semelhantes para tentar recuperar sua saúde financeira.
Um exemplo marcante é o Cruzeiro, que acumulou dívidas bilionárias e precisou
reestruturar suas operações ao se tornar SAF (Sociedade Anônima do Futebol). No
entanto, diferentemente do Cruzeiro, que conseguiu atrair investidores e
reestruturar sua gestão, o Vasco ainda enfrenta um cenário de incerteza quanto
à viabilidade da recuperação sem uma mudança profunda em sua administração e
modelo de negócios.
Outro ponto importante a ser considerado é o impacto
da recuperação judicial nas relações do clube com atletas, patrocinadores e
fornecedores. O processo pode gerar instabilidade, afetando negociações de
novos contratos e até mesmo comprometendo a credibilidade do clube no mercado
esportivo. Além disso, a torcida, que é um dos maiores patrimônios do Vasco,
pode se dividir entre a esperança de um futuro mais estável e o receio de que o
clube não consiga cumprir as obrigações estabelecidas no plano de recuperação.
O Vasco ainda se encontra no estágio inicial desse
processo e enfrentará diversos desafios até alcançar a estabilização
financeira. A Recuperação Judicial não é um passe livre para o perdão das
dívidas, mas sim um instrumento que possibilita a renegociação e reestruturação
dos débitos de maneira ordenada e viável. O sucesso desse procedimento
dependerá da gestão eficiente do clube, da cooperação dos credores e da
capacidade de implementar um plano sustentável de recuperação. Sem uma
administração responsável e comprometida com ajustes profundos, há o risco de
que o clube não consiga cumprir as condições estabelecidas e acabe em uma
situação ainda mais delicada.
No cenário esportivo mundial, há exemplos de clubes
que conseguiram superar crises financeiras severas e se reerguer, mas também há
casos de fracasso. Na Europa, equipes como Borussia Dortmund e Juventus
passaram por reestruturações significativas, mas conseguiram se recuperar por
meio de planejamento estratégico, cortes de gastos e novas fontes de receita. O
Vasco precisará seguir um caminho semelhante para evitar um colapso
irreversível.
Agradecimentos: Alexandre Ribeiro | Press FC
* Este conteúdo
foi enviado pela assessoria de imprensa

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