Jorge Ben Jor: 35 anos de “Benjor”
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"Benjor", disco de Jorge Ben Jor, que completa 35 anos em 2024 |
Neste ano, o álbum “Benjor”, o 23° disco de estúdio de Jorge Ben Jor, completa 35 anos de lançamento. Gravado nos estúdios Nas Nuvens, Rio de Janeiro; Vice Versa, em São Paulo; Record Plant e Lion Share, em Los Angeles, nos Estados Unidos, o trabalho foi produzido por Liminha, Nando Reis e Vítor Farias, exceto em “Mama África’, que teve a produção creditada a Pena Schmidt e João Leopoldo Modesto. A obra marcou a estreia do cantor na WEA.
Depois de um período de três anos sem lançar um
disco, Jorge Ben reapareceu em 1989, “rebatizado”, agora como Jorge Benjor
(posteriormente, Ben Jor), e com nova gravadora, a WEA. Com contrato assinado,
o compositor, que adotou o novo nome artístico por supostos problemas em
relação ao nome de George Benson, que era da mesma gravadora e dizem que havia relatos
a respeito da “confusão de nome”.
Então, na nova “casa”, gravou o disco com o seu “sobrenome”
novo. O disco abre com “Pega Ela de Montão”, que mantém o som
característico dele, uma faixa dançante, com presença de metais e percussão e
que, em tom irônico e descontraído, a letra menciona os desejos de um homem
sobre sua companheira e vida ideal. A faixa seguinte é a agitada “Miss X”,
bem ritmada e com um groove envolvente e com abordagem lúdica para conquistar
alguém e que, nos dias atuais, vai contra às perspectivas do desejo alheio,
como uma espécie de “anti não é não”. Já em “O Homem do Espaço”, Ben Jor
mantém o suingue e fala a respeito de um “homem do espaço” enaltece os
atributos de uma terráquea, especialmente na figura de uma mulher negra e que,
infelizmente, hoje poderia soar em tom pejorativo/preconceituoso por ele
referir a ela como “neguinha”. E o lado A encerra com “Um Avião Me Informou”,
um samba em que Jorge mescla críticas sociais em um ritmo cadenciado, com
metáforas e abordagens que falam sobre manipulações, conflitos e resistências
culturais, o tal “avião” pode ser o mensageiro portador de trazer à tona as
práticas desonestas e atitudes oportunidades e que o “cheque voador” pode propor
algo ilícito ou trapaça. Apesar do teor da letra, a música não faz nenhuma “denúncia”
em si.
A segunda metade da obra começa com "Norma
Jean", um pop dançante que homenageia à Marilyn Monroe (nascida como
Norma Jean Mortenson - 1926-1962), em que Jorge Ben Jor celebra a beleza, a
sensualidade, símbolo sexual, enaltecendo-a como "lenda de Hollywood"
e tecendo outros adjetivos, como musa, deusa e lenda. De imediato, em "Homem
de Negócio", Jorge Ben Jor faz uma crítica à superficialidade ao
estilo de vida do sujeito voltado ao materialismo e a sua busca por status. O
instrumental ficou por conta d'Os Paralamas do Sucesso que, por sinal, ficou à
cara do trio, não à toa que, no decorrer da música, Jorge diz: “Chama os
Paralamas aí pra tocar”. Aliás, dois anos antes, Herbert Vianna, Bi Ribeiro e
João Barone fizeram o cover de "Charles, Anjo 45", do próprio
Jorge Ben, no álbum "D". Além de enaltecer a figura feminina e do
Flamengo em suas músicas, outro tema que não poderia faltar em um trabalho de
Jorge Ben Jor, é o seu padroeiro São Jorge, que é celebrado em “Cowboy Jorge”,
a sétima canção da obra. Com um baixo tocado em alto nível, a cadenciada faixa menciona
diversas vezes o nome de Jorge e a invocação de Ogum, um orixá das religiões
afro-brasileiras, sugere um pedido de proteção do santo guerreiro, reforçando o
dia 23, que é costumeiramente associado a São Jorge, celebrado em festas e
rituais (feriados em cidades como o Rio de Janeiro). A música foi regrada por
ele no álbum "23" (1993). A
penúltima canção é “Mama África”, uma alegre música que, como o título
diz, celebra de forma vibrante e apaixonada o continente africano e sua vasta
herança cultural. A repetição da palavra "viva" enfatiza respeito ao
continente que, ao longo do tempo, figurou como origem de muitos povos. E, para
encerrar, “Cabelo”, parceria dele com o, na época titã, Arnaldo Antunes,
que explora a relação íntima que as pessoas
têm com os seus cabelos, enaltecendo a diversidade e a riqueza das formas e
estilos de cabelos bem como penteados, um quase-jazz que ficou bem bacana. No
ano seguinte, a música foi regravada por Gal Costa (1945-2022) no álbum “Plural” (1990) e que fez bastante
sucesso na época.
Apesar de não estar no rol de clássicos discos de
Jorge Ben Jor, “Benjor” é um trabalho
que merece ser ouvido com carinho e, mesmo sem ter feito grande sucesso, traz
boas músicas. E salve Jorge!
A seguir, a ficha técnica e o tracklist da obra.
Álbum: Benjor
Intérprete: Jorge Ben Jor
Lançamento: 1989
Gravadora/Distribuidora: WEA
Produtores: Liminha, Nando Reis e Vítor Farias / Pena Schmidt e
João Leopoldo Modesto em “Mama África”
Jorge
Ben Jor: arranjos, voz, guitarra, percussão
e violão
King
Sunny Ade: arranjos em "Mama África"
Liminha: arranjos (exceto em "Mama África"), baixo em "Pega Ela de Montão", "Miss
X", "Norma Jean” e
"Cowboy Jorge"
Os
Paralamas Do Sucesso: arranjos em "Homem de Negócios”
Bi
Ribeiro: baixo em "Homem de Negócios"
Delmar
Brown: baixo em "Um Avião Me Informou"
Claudia
Telles, Fernando Gama, Luiz Carlos Ismail, Márcio Lotte e Regininha: backing vocals em "Miss X", "Um Avião me Informou" e "Mama África"
Cláudio
Infante: bateria em "Norma Jean"
Danny
Golthlieb: bateria em "Mama África"
João
Barone: bateria em "Pega Ela de Montão", "Miss X", "Homem de Negócios” e "Mama
África"
Teo
Lima: bateria em "Homem do Espaço"
Celso
Fonseca: guitarra em "Pega Ela de Montão", "O Homem do Espaço", "Norma Jean" e "Cowboy Jorge"
Herbert
Vianna: guitarra em "Homem de Negócios"
Jorjão: teclados (exceto em "Miss X", "Um Avião
Me Informou" e "Mama África"),
e piano em "Mama África"
Bahiano: percussão em "Cowboy Jorge"
Paulinho
da Costa: percussão (exceto em "Um Avião Me Informou", "Norma Jean" e "Mama África")
Paulinho
da Aba: percussão em "O Homem do Espaço"
Cidinho: percussão em "Cowboy Jorge"
Chacal: percussão e bongô em "Norma Jean" e "Homem
de Negócios"
Neném
da Cuíca: percussão e cuíca em "O Homem do Espaço" e "Um Avião Me Informou"
Lucia
Turnbull: vocais em "Homem de Negócios"
1. Pega Ela de Montão (Jorge Benjor)
2. Miss X (Jorge
Benjor)
3. O Homem do Espaço (Jorge Benjor)
4. Um Avião Me Informou (Jorge Benjor)
5. Norma Jean (Jorge
Benjor)
6. Homem de Negócios (Jorge Benjor)
7. Cowboy Jorge (Jorge
Benjor)
8. Mama África (Jorge
Benjor)
9. Cabelo (Jorge
Benjor / Arnaldo Antunes)
Por Jorge Almeida
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